Alerta nos EUA baseado em planos antigos da Al-Qaeda

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A Administração Bush reconheceu que as medidas antiterrorismo tiveram origem em material de vigilância a edifícios nos EUA recolhido em 2000 e 2001, mas agora encontrado no Paquistão Gerald Herbert/AP

Horas depois, numa conferência de imprensa em Nova Iorque, o secretário para a Segurança Interna, Tom Ridge, reconheceu que "não há vigilância recente" por parte da Al-Qaeda dos edifícios ligados a instituições financeiras e identificados como potenciais alvos em Washington, Nova Iorque e Newark. Mas defendeu a decisão de lançar o alerta e rejeitou as acusações de que era uma jogada política. "Não nos metemos em política no departamento de Segurança Interna. A nossa tarefa é identificar a ameaça".

"Não é novo. Já o tinhamos dito", declarou por seu lado a conselheira adjunta para a segurança nacional, Frances Towsend, à CNN. "Os relatórios sobre a vigilância [dos edifícios] foram feitos em 2000 e 2001, mas alguns foram actualizados em Janeiro deste ano", acrescentou.

O alerta foi lançado no domingo. Tom Ridge chamou os jornalistas e declarou: "Isto é o que sabemos de momento: há informações que indicam que a Al-Qaeda está a visar vários edifícios específicos", citando, entre outros, os do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Washington e a Bolsa de Nova Iorque. O nível de alerta de segurança nacional foi aumentado de amarelo para laranja.

Na segunda-feira soube-se a origem da informação: material informático recolhido numa operação no Paquistão nas últimas semanas de Julho, na qual foi preso um importante elemento da Al-Qaeda, o tanzaniano Ahmed Khalfan Ghailani, suspeito de ligações aos atentados contra as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia em 1998.

A operação que conduziu à detenção permitiu às autoridades paquistanesas penetrar numa célula do grupo sedeada no país e as detenções continuam. Segundo disse ontem o ministro do Interior, Faisal Saleh Hayat, "outras duas pessoas de origem africana" com possíveis ligações à Al-Qaeda foram detidas entre segunda e terça-feira. Antes, acrescentou Hayat sem mais pormenores, tinha sido presa "outra pessoa por quem é oferecida uma recompensa multimilionária".

Entre o material apreendido com o tanzaniano, o mais relevante eram os arquivos de computador de uma outra figura bastante mais obscura, o perito informático Mohammad Naeem Noor Khan, que incluiam informação descrita como "extremamente detalhada" sobre vários edifícios nos EUA. O que ontem a imprensa revelou é que essa informação foi recolhida por elementos da Al-Qaeda nos anos 2000 e 2001.

Este dado pode ser interpretado de duas maneiras. Ou era informação para potenciais planos de atentados que acabaram por ser abandonados após o 11 de Setembro; ou, como afirmavam ontem vários responsáveis da Administração, é informação que a organização de Osama bin Laden vai armazendo e que poderia ainda ser usada - daí a decisão de tomar imediatas medidas de precaução. "Sabemos que se trata de uma organização que planifica com antecedência, que prepara", sublinhou ontem Tom Ridge.

O problema é que em plena campanha eleitoral, logo após o fim da convenção do Partido Democrata, um novo alerta pode ser interpretado como uma jogada política. Foi isso que veio dizer o antigo candidato presidencial democrata Howard Dean: "Receio que cada vez que acontece uma coisa que não é boa para o Presidente [George W.] Bush, ele joga a sua carta de trunfo, que é o terrorismo. É impossível saber o que é realidade e o que é política".

A credibilidade da informação

É por causa desta dúvida que a questão fundamental em toda a história é a da credibilidade da informação. E há alguma confusão e perguntas sem resposta: os indivíduos que recolheram a informação sobre os edifícios continuam nos EUA e estão operacionais? O perito informático capturado no Paquistão é uma figura importante dentro da Al-Qaeda?


Responsáveis paquistaneses "próximos do caso" disseram ao "Financial Times" que a informação obtida na sequência das detenções do mês passado não constitui prova suficiente de que houvesse uma ameaça terrorista iminente nos EUA. Referindo-se ao tanzaniano Ghailani, uma das fontes do jornal britânico diz: "Ele estava em fuga há tanto tempo que não há bases para se pensar que era central no planeamento na Europa ou nos EUA". Quanto ao perito informático Khan, o "New York Times" adianta que era um desconhecido para os EUA até Maio passado, mas foi detido a 13 de Julho e foi a informação fornecida por ele que permitiu a captura de Ghailani, no dia 25.

Segundo o "Asia Times Online", Islamabad tem feito uma cuidadosa gestão destas prisões, usando-as como "moeda de troca para continuar a garantir o apoio de Bush ao regime do general Musharraf". O texto, que cita "peritos de segurança próximos dos corredores do poder", adianta que muitos membros da Al-Qaeda, entre os quais alguns "nomes importantes", já foram capturados, mas isso só será tornado público numa altura favorável, tanto para Washington como para Islamabad.

Uma das questões que a sequência de acontecimentos dos últimos dias coloca é a do equilíbrio entre a segurança e a gestão de informação ao público. A Administração Bush diz não poder revelar muito sobre as fontes de informação para não pôr as investigações em causa. Mas, se os alertas terroristas começam a levantar dúvidas, a opinião pública vai, inevitavelmente, querer saber mais sobre as informações em que eles se baseiam.

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