Se esquecermos isso tudo, ficam evidentes os dotes camaleónicos de Isabel Coixet. "A Minha Vida Sem Mim", se não soubéssemos que a realizadora e a produção eram espanholas, passava perfeitamente por ser um típico e "genuíno" filme "independente" americano, genéro (chamemos-lhe um "género") de que conserva inúmeras marcas, para o melhor e para o pior, e de que conserva, principalmente, a pose. É uma história "terminal": a protagonista é informada de que tem um cancro incurável e que lhe restam cerca de dois meses de vida. O filme acompanhará a "preparação" da personagem de Polley, e o modo como tenta assegurar que a "sua vida" (as filhas, o marido, a mãe) poderá continuar mais ou menos ininterrupta "sem ela". Traz à memória, pelo tema e pela sua conjugação no feminino, a primeira longa-metragem de Agnès Varda ("Cléo de 5 à 7"), e se mais semelhanças são difíceis de encontrar, fica pelo menos em comum o lado contemplativo e interiorizado de ambos os filmes.
"A Minha Vida Sem Mim", de algum modo, é um filme em monólogo interior, em plano subjectivo, na medida em que tudo o que tenha a ver com o exterior da protagonista (sejam sítios e acontecimentos sejam, sobretudo, as restantes personagens) é mediado pelo seu olhar e pelo seu afecto. Coixet filma com pudor e sem o melodramatismo porventura inerente a uma história baseada num situação como a desta; por outro lado, essa "correcção" resulta num filme um tanto "arrumadinho" de mais, que não se justifica nem se quisermos considerar que a protagonista vive, desde o princípio do filme, numa espécie de transe mais ou menos hipnótico. Ou seja, tudo resulta numa coisa que, sendo eficaz e bastante "amável", é também bastante limitada. Há um bom plano, no entanto: o regresso de Ruffalo para se despedir de Polley, numa breve cena em que não há corte entre a sua (primeira) saída de campo e a sua reentrada. Deve ser também o único momento em que se sente uma ideia de mise en scène e de montagem a trabalhar.