Esculturas de Antony Gormley em exposição na Gulbenkian

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Na exposição Mass and Empathy, Gormley criou corpos com base em pessoas reais Andre Kosters/Lusa

Altos e baixos, magros e gordos, velhos e novos, estes estranhos seres, que transmitem uma enorme leveza, foram criados com base no corpo de 287 pessoas, dos dois aos 87 anos, que se ofereceram para participar no mais recente trabalho artístico do escultor distinguido com o prémio Turner em 1994.

"Cada uma destas estruturas tem por base uma pessoa real, com um nome e uma história de vida própria e reporta-se a um determinado momento vivido no espaço e no tempo", explicou Gormley, durante a visita inaugural à exposição intitulada "Mass and Empathy".

Até ao próximo dia 16 de Maio, estes corpos - definidos apenas pelos seus contornos e marcados pela fragilidade que deriva da fragmentação em pequenas barras metálicas - vão espalhar-se pela Gulbenkian, invadindo os jardins e os lagos da Fundação, sem criarem entre si qualquer narrativa aparente.

"Evitei criar uma mise-en-scéne, própria da escultura figurativa. Estes corpos encontram-se afastados e não estão a olhar uns para os outros, pelo que é o visitante, através da sua trajectória, que cria as relações entre eles e a sua própria narrativa", disse o escultor.

Para Gormley, estes corpos - que integraram uma exposição intitulada "Domain Field", visitada por mais de 300 mil pessoas no Reino Unido - são uma espécie de partículas disseminadas que "estão na fronteira entre o ser e o nada", levantando questões filosóficas primordiais.

"A questão mais importante neste trabalho é saber o que constitui os indivíduos. Nascemos como uma alma eterna ou cada um de nós é apenas o foco das relações humanas?", questiona.

Mas as preocupações do escultor britânico reflectem-se também num outro trabalho exposto na Gulbenkian e intitulado "Critical Mass", no qual os seres frágeis dão lugar a corpos de ferro maciço, com cerca de 650 quilos de peso.

Em "Critical Mass", obra mais antiga de Gormley, os corpos estão pendurados pelos pés, virados para a parede, deitados de cabeça ou sentados de cócoras, representando "as vítimas da história".

"Trata-se de uma metáfora social em que os corpos estão reprimidos e põem em causa a ideia do progresso humano e de ordem política", explicou o escultor.

Até meados de Maio, estes dois grupos de esculturas confrontam-se na Gulbenkian, constituindo, de acordo com a Fundação, um dos pontos mais altos da programação do Centro de Arte Moderna.