Chirac: nova estratégia dos EUA para o Iraque é "positiva" mas "insuficiente"
"A nova orientação que os nossos amigos iraquianos estão a adoptar, com vista à transferência da soberania e da responsabilidade para o povo iraquiano parece-me postiva", declarou Chirac, durante uma conferência de imprensa conjunta com Tony Blair.
"No entanto, parece-me que [a nova estratégia americana] prevê um período de tempo demasiado longo e é relativamente incompleta", sublinhou o Presidente francês, dando como exemplo o facto de o papel da ONU nesta fase de transição "estar definido de forma insuficiente". "Estamos no bom caminho, mas [a posição americana] ainda é insuficiente e incompleta", sustentou.
Perante a crescente instabilidade no Iraque e confrontada com as eleições presidenciais do próximo ano, a Administração norte-americana alterou a sua estratégia, decidindo acelerar a fase de transição política no Iraque
Na semana passada, os EUA anunciaram ter acordado com o Conselho de Governo iraquiano a transferência de poderes para um Governo interino já no próximo Verão, estando previstas eleições gerais alguns meses depois. Até agora, Washington fazia depender a transição de poderes da aprovação de uma nova Constituição.
O bloco de países que se opôs à guerra contra o Iraque — liderados pela França, Alemanha e Rússia — saudou a anticipação do calendário, mas sustenta que o papel da ONU em todo este processo voltou a não ficar definido.
Defesa europeia não será um perigo para a NATOA questão da defesa europeia foi outro dos temas em destaque nesta 26ª cimeira franco-britânica, na qual Blair se esforçou para demostrar que, apesar da sua aliança com os EUA, continua a não descorar as opiniões dos seus parceiros europeus.
Segundo Blair, Reino Unido e França consideram que a política comum de defesa deverá ser complementar à NATO e nunca uma alternativa à Aliança Atlântica — posição já assumida aliás pelos Quinze durante a última cimeira europeia em Bruxelas.
"A NATO continuará a ser a pedra angular da nossa defesa", afirmou Blair, mostrando-se convicto de que esta noção irá ficar claramente definida na futura Constituição europeia.
Para o primeiro-ministro britânico, "é importante perceber que a defesa europeia irá ocupar-se de operações limitadas e de missões humanitárias", como aconteceu na intervenção na Macedónia. No entanto, sublinhou, "ninguém quer que estas iniciativas se desenvolvam de forma incompatível com a NATO".
O Presidente francês, um dos principais defensores do projecto, disse concordar "plenamente" com Tony Blair, e afirmou que o sistema de defesa da UE não deve ser incompatível com a participação dos países da UE na Aliança Atlântica. "Nem os franceses, nem os alemães querem desenvolver qualquer iniciativa que vá contra a NATO, que está no centro do nosso sistema de defesa", sublinhou.
Uma questão incómodaA defesa europeia é uma das questões mais incómodas na discussão sobre a proposta de Constituição apresentada pela Convenção e que actualmente se encontra em debate na Conferência Intergovernamental. O texto proposto pelos convencionais prevê um mecanismo de "cooperação estruturada" no domínio da defesa, o qual permitirá que um grupo de países avance rapidamente para a criação de estruturas militares integradas e autónomas, que poderão passar pela criação de um quartel-general fora das estruturas da NATO.
O interesse de países como a França, a Alemanha, a Bélgica e o Luxemburgo em fazer avançar rapidamente este mecanismo de cooperação fez soar os alertas em Washington, que teme que a nova estrutura possa representar uma ameaça ao futuro da NATO.
O primeiro-ministro Tony Blair, o mais próximo aliado europeu dos EUA, manifestou-se inicialmente contra a intenção dos seus parceiros europeus, mas mais tarde viria a admitir que a UE tem de estar preparada para conduzir operações militares sem os recursos da Aliança.
Pressionado por Washington a não integrar qualquer iniciativa deste género, Blair acabaria por condicionar o seu apoio à iniciativa comunitária à garantia de que esta seja "complementar à NATO e não em competição com ela". Em concreto, Londres não quer a criação de um quartel-general fora da estrutura da Aliança Atlântica e defende que a iniciativa europeia não deve ter como função "a defesa colectiva da Europa", a qual deve continuar a ser uma competência exclusiva da NATO.