Vale e Azevedo enfrenta nova acusação

Foto
A hipoteca de um prédio da família de Pedro Dantas da Cunha continua a marcar o caso Vale e Azevedo Miguel Madeira/PÚBLICO

Actualmente a cumprir uma pena de prisão de quatro anos e meio, a que foi condenado no âmbito do processo de transferência do guarda-redes Ovchinnikov do clube da Luz para o Alverca, Vale e Azevedo viu ainda o Ministério Público solicitar como medida de coacção, caso o ex-líder benfiquista venha a ser posto em liberdade, a prestação de Termo de Identidade e Residência bem como uma caução no valor de 5 milhões de euros.

Na sequência da investigação agora concluída, o Ministério Público considera que Vale e Azevedo tirou partido da relação de confiança que possuía junto da família Dantas da Cunha, congeminando um plano que lhe permitiu beneficiar em proveito próprio de um empréstimo concedido pela Caixa Geral de Depósitos no valor de 1,5 milhões de contos.

O Ministério Público considera que Vale e Azevedo ludibriou Pedro Dantas da Cunha aliciando-o a investir num fundo imobiliário a constituir através da Sociedade Sojifa, então propriedade de Vale e Azevedo e de sua esposa, mas que o ex-presidente benfiquista sabia não existir, que não estava em vias de ser constituído e que nem sequer tinha intenção de o vir a constituir. Posteriormente, alegando dificuldades na constituição desse fundo, Vale e Azevedo terá proposto a Dantas da Cunha outro fundo, em que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) também estaria envolvida.

Simultaneamente, Vale e Azevedo ter-se-á dirigido à CGD, onde afirmou ter em mãos a venda do património da família Dantas da Cunha, nomeadamente de um prédio no Areeiro em relação ao qual ele próprio estava interessado, necessitando de um empréstimo no valor de 1,5 milhões de contos (7,4 milhões de euros).

O Ministério Público conclui que Vale e Azevedo elaborou então, no seu escritório, um contrato que Dantas da Cunha assinou, mas onde não constavam as condições nem as implicações das negociações que tinha efectuado junto da CGD e que exigiam a hipoteca do prédio. Segundo a investigação, o advogado, "por forma não apurada", transformou a documentação assinada por Dantas da Cunha numa só procuração, aproveitando o verso da primeira folha para fazer constar um texto em que ficava com plenos poderes para onerar, incluindo hipotecar, o prédio do Areeiro. Na acusação do Ministério Público refere-se, inclusive, que a busca efectuada ao escritório do advogado permitiu localizar num computador o histórico daqueles documentos.

Contando sempre com a colaboração da notária Lídia Menezes, que deu o seu aval a documentos que não tinham sido elaborados ou rubricados por si ou por qualquer funcionário notarial - o que levou o Ministério Público a acusá-la também do crime de falsificação -, Vale e Azevedo conseguiu obter o empréstimo de 1,5 milhões de contos, dos quais utilizou "em proveito próprio", como se pode ler na acusação a que o PÚBLICO teve acesso, um milhão. O destino do dinheiro, pelo menos em parte, foram duas contas no exterior do país. A impossibilidade de determinar com clareza o percurso daquele valor inviabilizou uma eventual acusação por branqueamento de capitais.

Para além do processo Ovchinnikov, cujo recurso aguarda ainda uma decisão, Vale e Azevedo começou recentemente a ser julgado no âmbito do chamado caso Euroárea, relativo à venda dos terrenos da chamada Urbanização Sul do antigo Estádio da Luz. Em fase de inquérito continuam as suspeitas relativas à transferência do futebolista Amaral do Benfica para a Fiorentina, bem como outro processo que envolve a transferência de 15 jogadores durante o consulado de Vale e Azevedo no Benfica. Para além destes casos existem ainda outros, mas relacionados com a actividade profissional de Vale e Azevedo.

Sugerir correcção
Comentar