Isso estava, por exemplo, em "Donnie Darko"; está em "Sonhos Desfeitos". Não é a bizarria, não se trata do efeito-Lynch nem das catarses suburbanas a la Todd Solondz. É algo de mais suave - mais digerível, reconfortante -, que não disfarça o querer seduzir o espectador com um porto de abrigo. Como um telefilme familiar que dá espaço ao desvio, mas só o suficiente para nada sair da norma. "Sonhos Desfeitos" tem algumas dessas marcas, que lhe roubam uma energia mais feroz. Por exemplo, em toques de caracterização das personagens de Dustin Hoffman e Susan Sarandon, como uma dupla excêntrica - sobretudo Hoffman, que parece um boneco. Mas há filme para além disto. Que não é redutível à fórmula de "filme sobre o trabalho de luto" porque em "Sonhos Desfeitos" as personagens adiam o confronto com as emoções. É por elas escolherem esse limbo que os seus gestos são mais misteriosos, menos imediatamente reconhecíveis pelas fórmulas interiorizadas por um espectador - por exemplo, a sequência inicial, que parece a preparação de um casamento, é antes a preparação de um funeral. É quando se coloca nessa antecâmara - antes da fórmula de filme sobre o luto - que é um singular.
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