À procura do momento certo

Depois de "Viagens", "Tempo" e "Silêncio", o novo álbum de Pedro Abrunhosa, "Momento", relança o autor de "Não posso mais" como cantor de baladas.
Em termos comerciais, Abrunhosa conheceu o êxito retumbante com o primeiro e o segundo álbuns (140 mil e 200 mil cópias vendidas, respectivamente), mas também o fracasso com "Silêncio", o seu último disco de originais. O novo álbum tem por objectivo não só o relançamento da sua carreira, mas também a captação de um público que outrora conquistou através de canções românticas e de teor íntimo. Não sendo um cantor no sentido mais estrito, Pedro Abrunhosa refugia-se na sua arte de declamador, inspirado em textos onde as referência à cidade do Porto se misturam com a sensualidade que lhe é reconhecida.
Além das baladas, que preenchem mais de metade do alinhamento do disco, destaque para três canções "midtempo", como "Diabo no corpo", "Hoje é tudo ou nada" e "Outra noite perfeita", e para os dois instrumentais que fecham o disco.
Produzido por Mário Barreiros, "Momento" aposta definitivamente na figura de Abrunhosa enquanto "diseur", deixando que as palavras ganhem peso em detrimento da música, desta feita reduzida ao essencial. O piano é, por isso, o seu melhor amigo. Como indispensável contraponto feminino, Abrunhosa convidou Cat, a vocalista do grupo Eye, que colaborou em três canções. Secções de cordas e de metais contribuem no sentido de criar atmosferas ora nostálgicas ora lacrimejantes, de forma a sublinhar a importância do texto, quase sempre dito em jeito de sussurro e em tom puramente confessional. M.F.C.


Manoel de Oliveira filma música de Pedro Abrunhosa

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Depois da longa-metragem "A Carta", o realizador e o actor-cantor reencontraram-se, agora, a pretexto do álbum "Momento" DR

Alguns jornalistas puderam ouvir ontem, em estreia, as treze canções do álbum "Momento", o quarto disco da carreira discográfica de Pedro Abrunhosa, que conhecerá edição no próximo dia 18 de Novembro. Nos estúdios Shangrila, em Lisboa, as canções "Momento (uma espécie de céu)", "Sempre: o espaço vazio", "Uma loucura de anjo", "Diabo no corpo", "Deixas em mim tanto de ti", "Mais uma noite a vencer", "Tu não sabes", "Hoje é tudo ou nada", "Um mágico no peito", "Outra noite perfeita", "Eu não sei quem te perdeu", "Ecos de uma asa que voa" e "Sempre: um instante demente" foram escutadas na presença de Pedro Abrunhosa, notando-se a predominância para as baladas à maneira de "Se eu fosse um dia o teu olhar". Registam-se ainda três canções pop e dois temas instrumentais.

O primeiro "single", já a circular nas rádios portuguesas, será o tema "Momento (uma espécie de céu)", que ao invés do habitual teledisco será ilustrado por uma curta-metragem realizada pelo cineasta, também portuense, Manoel de Oliveira. O pequeno filme, com a duração de cinco minutos, foi rodado no Porto e, nas palavras do próprio Pedro Abrunhosa, "reflecte um imaginário partilhado por mim e por Manoel de Oliveira". A fita refere-se explicitamente à Cidade Invicta, um dos temas preferidos de Abrunhosa, ainda que "como uma metáfora de Amesterdão, Paris ou Berlim. É de um Porto cosmopolita e universalista que se trata".

Mais do que um teledisco, a curta-metragem de "Momento" pretende ser "uma imagem um pouco poética do texto que acompanha a canção com o mesmo nome. É uma visão do Manoel de Oliveira da minha canção. E nota-se que é um filme de Oliveira: pela luz, pela fotografia, pela plasticidade e, sobretudo, pelo rigor com que é tratada a palavra. Aliás, há uma extrema fidelização relativamente à estrutura da canção e ao texto", acrescentou Abrunhosa ao descrever a curta-metragem cuja fotografia é da autoria de Francisco Oliveira, neto do realizador.

No filme, além das imagens da cidade do Porto captadas pelo autor de "Aniki-Bobó", Abrunhosa surge a tocar piano. "Apesar de Manoel de Oliveira desprezar a categoria vídeo-clip, também há esse lado MTV na curta-metragem de 'Momento'. Eu apareço e quando se ouve a voz de uma mulher surge uma figura feminina", acrescentou o cantor.

O Porto é, no entanto, o personagem principal do filme. Um Porto que é entendido como "o lugar mimético de uma certa linguagem que é comum às nossas duas gerações", frisa Abrunhosa, sublinhando o vigor da visão de Oliveira, aos 93 anos, quando aborda um tema de pop-rock. "A letra é muito importante para a compreensão do filme e o Manoel de Oliveira identificou-se muito com o meu texto", não sendo por isso de estranhar o facto de alguém que começou a sua carreira de realizador durante o tempo do cinema mudo estar agora a fazer curtas-metragens inspiradas em canções pop.

Esta colaboração entre Pedro Abrunhosa e Manoel de Oliveira tem um antecedente em 1999, quando o cantor de "Não posso mais" fez parte do elenco do filme "A Carta". Uma experiência que voltou a repetir-se, "mas agora comigo no papel de contemplativo e Oliveira no papel de provocador. Esta curta-metragem mostra o cruzanento de um olhar apolíneo e de um olhar dionisíaco", confessou Pedro Abrunhosa, que não se absteve de dramatizar o tema central do seu novo disco: "O que está em causa neste álbum é a perenização do momento, sendo que a morte é o momento supremo".

Está previsto que a curta-metragem de "Momento" seja exibida no circuito comercial, em festivais de cinema e, claro, nalguns canais de televisão, como ferramenta de promoção do novo trabalho de Pedro Abrunhosa. Relembre-se que este foi, além de actor, o compositor de parte da banda sonora de "A Carta", experiência que aliás repetiu no filme "Adão e Eva", de Joaquim Leitão, onde popularizou o tema "Se eu fosse um dia o teu olhar".

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