Apesar de contracenar com estrelas reais, como Sarah Michelle Gellar e Freddie Prinze Jr. (um casal, na chamada "realidade"), o virtual "grand danois" Scooby-Doo rouba o filme aos seus companheiros - tem os melhores diálogos, as melhores cenas, apesar da sua cobardia e trapalhice. Esta é a adaptação cinematográfica da série televisiva de animação da Hanna & Barbera, que se estreou em 1969.
Esta é a história de um cão (em primeiríssimo lugar) e de quatro detectives adolescentes - os Mystery Inc. - com a mania que resolvem crimes. O cão é sempre o último a rir silenciosamente, e é o melhor amigo de Shaggy/Matthew Lillard (tão cobarde como o animal e com uma aparência estrambólica, de olhos arregalados). Há ainda o idiota, narcisista e exageradamente vestido Fred (Freddie Prinze Jr.) e a donzela em apuros, Daphne (Sarah Michelle Gellar). Os "Mystery Inc.", que andaram algum tempo afastados por causa de conflitos egoístas, reagrupam-se após terem recebido uma carta anónima convocando a sua presença na estância de recreio universitária chamada Spooky Island, onde acontecimentos estranhos estão a assustar os estudantes em férias - basicamente, eles estão a ser possessos. O proprietário da estância balnear, Emile Mondavarious (um invulgarmente falador Rowan Atkinson), contrata a equipa de detectives adolescentes para desvendar os poderes fantasmagóricos.
Diz Sarah Michelle Gellar, num encontro com a imprensa em Creta, na Grécia: "Quando era mais nova, achava realmente duro que os filmes animados fossem ou para rapazes ou então para raparigas. Eu não me enquadrava em nenhuma dessas categorias. Não gostava de todas aquelas tolices de raparigas, nem dos filmes animados de acção. Gostava de 'Scooby-Doo' porque era sobre miúdos novos que tomavam conta de si próprios." Basicamente, Sarah era uma daquelas adolescentes lorpas, com poucos amigos - agora tem muitos - e que gostava de Scooby-Doo porque dizia respeito a pessoas como ela.
Gellar, com a série televisiva Buffy, Caçadora de Vampiros, revolucionou o típico papel de adolescente, fazendo do estereótipo uma "outsider". Com 25 anos, trajando um feminino vestido de algodão e com o cabelo loiro apanhado no alto da cabeça com uma trança, Gellar é a feminilidade em pessoa. Foi por isso complicado transformar-se em Daphne, uma donzela em apuros.
"No início, tinha imensas ideias. Tais como querer que a Daphne mudasse com o passar do tempo e que parecesse 'sexy' e tudo isso, mas não queiram saber como me arrependi no final! De repente, era Inverno, as minhas saias só tinham dois centímetros de comprimento e as minhas mamas estavam esticadas a tal ponto que me doía a cabeça. Por fim, resolvemos o problema arranjando umas bermudas para usar debaixo da saia."
No papel de Daphne, Gellar veste-se de cor-de-rosa e roxo - "aquele particular tom de roxo de que tenho de me afastar agora", brinca. Tem cabelo ruivo, mas na verdade usa uma peruca. Foi compensador o facto de o seu louro platinado Prinze ter de parecer muito mais tonto e ser obrigado a suportar dores normalmente reservadas às mulheres. "Foi tão bem feito!", diz Gellar, soltando uma grande gargalhada. "Ele tinha de estar quieto enquanto tratavam do seu couro cabeludo de oito em oito dias. Eu dizia: 'Querido, vou para a praia' e ele ficava lá a tratar do escalpe."