E aqui von Trier explodiu: como toda a gente se lembra, "Ondas de Paixão" foi um colossal sucesso crítico (nem por isso consensual, felizmente) um pouco por todo o lado, afirmando-se como um dos grandes títulos da cinematografia europeia dos anos 90. Von Trier deixava, pela primeira vez, o terreno totalmente aberto ao seu enigmático misticismo, numa história de devoção, sacrifício e milagres ambientada numa comunidade protestante escocesa, por onde pairava com maior ou menor evidência a sombra de Carl Dreyer, o verdadeiro "gigante dinamarquês", e do fabuloso "Ordet". É um filme febril, construído num delírio desenfreado e ascendente, em paralelo à via sacra da protagonista Emily Watson. E quando, no fim, von Trier incluía o célebre plano dos sinos celestiais, num desafio ao cepticismo de grande parte do cinema (e do público) da década de 90, percebia-se claramente que estávamos em presença não só de um grande cineasta, mas de um cineasta capaz de tudo - inclusive, de suspender toda a lógica para deixar ficar apenas a crença e a emoção.
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