O melhor do cinema de Jarmusch é esta espécie de compromisso entre a contemplação e a acção, e o modo como esse compromisso ultrapassa o nível formal e se transporta para as personagens. "Ghost Dog", onde voltam a ser visíveis as semelhanças entre Jarmusch e o seu "primo" finlandês Aki Kaurismaki (que tem, apesar de tudo, outro fulgor), é por isso um filme sobre o cansaço, onde figuras anacrónicas (o samurai de Forest Whitaker, espantoso actor tão poucas vezes aproveitado pelo cinema americano) passeiam a sua saturação física e emocional por um mundo que já não reconhecem e que já não os reconhece a eles. Mas, e é o que torna as coisas interessantes, esse cansaço é também um cansaço do cinema: "Ghost Dog" assenta sobre uma série de resíduos de géneros, numa bricolage cinéfila que esvazia de sentido a própria cinefilia, e que é (de resto, como acontece em Kaurismaki) sobretudo uma maneira "terrorista" de decompor a solenidade (cultural, inclusive) que recai sobre qualquer objecto cinematográfico, "malgré lui".
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