Notting Hill

A ideia de um pacto livreiro de um bairro londrino se apaixonar por uma estrela de cinema americano e tudo resultar entre eles é uma fantasia, e com fantasias assim, inverosímeis, se fizeram grandes filmes - musicais, por exemplo - do cinema americano. Como tudo é artifício, também faz sentido que os exteriores de "Notting Hill" sejam tratados como estúdio de manipulações - o "travelling" em que Hugh Grant desce uma rua e as quatro estações passam por ele, como se não houvesse lapsos de tempo. Depois, há uma estrela americana (Julia Roberts) a fazer de estrela americana, e também com esses dados (narcisimo, vertigem neurótica ou ajuste de contas com a imagem) se fizeram grandes filmes - Minnelli e Cukor, por exemplo, e as suas obras sobre Hollywood e o cinema. Com Roberts até se dá o caso de parecer estar a deixar que façam a sua biografia por ela, já que com "Notting Hill" passa em filigrana a sua relação com a imprensa anglo-saxónica, e com próximo "Runaway Bride", em que interpreta uma personagem que deixa os noivos no altar, é impossível não pensar na forma como têm sido noticiados os seus breves casamentos ou os seus casamentos cancelados. Tudo isto está lá. Mas falta tudo: perversidade, sobretudo, em vez deste maravilhamento meio provinciano. Grant já anda há alguns anos a fazer este inglês despassarado; e Roberts continua a ter um sorriso largo de boneco animado, sem vibração.

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