A moda e a música juntaram-se no último dia do Portugal Fashion
Mais de 34 mil pessoas passaram pelo evento de moda que esteve no Porto durante três dias.
No último dia da 43.ª edição do Portugal Fashion, “costurou-se” moda e música na passerelle da Alfândega do Porto, com modelos a desfilar coordenados Pé de Chumbo com Cuca Roseta a cantar ao vivo; e os Storytailors com a violinista Ian como que a orquestrar o desfile. Num dia dividido entre roupa, calçado e acessórios, que terminou com um divertido desfile de Júlio Torcato que fecha um ciclo de três décadas na moda.
Na Alfândega do Porto, por onde passaram mais de 34 mil pessoas, a evocação ao fado começou logo no primeiro desfile do dia com Marta Marques e Paulo Almeida, da Marques'Almeida, com raízes em Londres, que fizeram desfilar vestidos de ganga com mangas balão, aplicações de franjas, saias pretas compridas e fluidas com folhos.
O fado continuou mais ao final da tarde, com Cuca Rosetta no desfile de Alexandra Oliveira, da marca Pé de Chumbo, de Guimarães. A designer levou a desfile a colecção de Verão 2019 inspirada no desenho das palhinhas utilizadas no mobiliário, no ouro, nas formas e nas cores do Minho. Alexandra Oliveira apresentou coordenados com muita cor, feitos de seda, algodão e ráfia em texturas encorporadas que criam volumes ou leves e românticas. A designer vende para mais de 20 países.
Umas horas antes, João Branco e Luís Sanchez, dos Storytailors, com banda sonora da violinista Ian ao vivo, apresentaram um desfile que foi pensado ao pormenor. “Quisemos espicaçar a imaginação das pessoas para que façam a sua própria interpretação do desfile”, diz João Branco. Os dois têm um registo de contadores de histórias com metáforas na passerelle. Para esta colecção "222", que surge na sequência das duas últimas, os designers inspiraram-se em “sinais que se lêem através da numerologia, de mensagens universais de boa fortuna, concretização”, acrescenta Luís Sanchez. Apresentaram tons pastéis rosas, brilhantes com linhas mais românticas e femininas, e outras peças com cortes que deixam revelar o corpo.
Nuno Baltazar também se inspirou na música, mas de Ellis Regina e de Chico Buarque para apresentar "Tatuagem", uma colecção que é de "intervenção". "É também das mais difíceis que fiz até hoje”, desabafa por entre o frenesim dos bastidores no final do desfile. Inspirou-se na forma como os artistas reagiram à censura no Brasil. “Tudo o que está na colecção está por um motivo”, diz enquanto aponta para os cintos que os modelos levam na cintura em alusão à “censura que segurava o artista no Brasil”. O designer fez desfilar contrastes de tecidos muito estruturados, telas de algodão muito duras por oposição a tecidos leves, e ainda sedas muito luminosas com cores vibrantes. A mudança de loja para a Rua do Bolhão, na Baixa do Porto, em Junho deste ano, trouxe-lhe mais vendas, sobretudo de turistas. “Está a correr muito bem. É um Porto mais moderno, com mais energia, diferente”, descreve. E a loja online esta prestes a funcionar.
Também Katty Xiomara se inspirou na arte, mas de três mulheres: a pintora Carmen Herrera, a designer gráfica Paula Scher e a arquitecta paisagista Bárbara Stauffacher. A designer levou à passerelle a colecção "BeBold" com detalhes, estampados vibrantes, contrastes de cor, aplicações e bordados e volumes.
Luís Buchinho também levou a arte mas japónica, inspirou-se nas gravuras Gyotaku, um método japonês de gravura de peixes. “Surgiu no século XIX e era uma maneira dos pescadores registarem os seus troféus e depois, mais tarde, houve intervenções de artistas”, conta o designer ao PÚBLICO. Conseguiu, então, um efeito de brilho metálico semelhante ao das escamas de peixes com coordenados plissados e enrugados. O criador fez desfilar saias com estampados Gyotaku, calças de cintura alta com riscas em cores contrastantes e molas de pressão nas carcelas laterais e vestidos de Jersey. É precisamente o mercado asiático que tem mais peso nas vendas internacionais, como Tóquio, Hong-Kong e Pequim. Ainda que venda tanto em Portugal como no exterior.
Já Luis Onofre fez desfilar a colecção de calçado que levou a Milão, mas com algumas alterações de cores só para o desfile de 36 modelos, dos quais seis foram masculinos. “Vermelho é o tom da estação, depois fui buscar uma tendência mexicana e inspirei-me numa concha rara do México que os Incas usavam muito para bijuteria”, conta. Com fivelas de cowboy cobertas de cristais, entre outros materiais. Um destes modelos pode custar entre 100 e 600 euros.
A noite terminou com um desfile muito animado de Júlio Torcato que quis comemorar 30 anos de carreira de forma diferente, “não num formato de uma colecção para a estação convencional”, explica enquanto mostra os coordenados que pediu 30 pessoas de várias áreas modificarem. Desde os gémeos Guedes, que pintaram dois casacos com graffitis, até Mário Matos Ribeiro, fundador da ModaLisboa.
O Portugal Fashion é organizado pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e é cofinanciado pelo Portugal 2020. Contou com a presença do novo secretário de Estado da Defesa do Consumidor, João Torres, que reforçou a importância da iniciativa para reforçar a indústria da moda. E que “mostra ao mundo o trabalho que é feito no país” nesta área, diz ao PÚBLICO.