Tancos faz cair ministro da Defesa
O ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, apresentou nesta sexta-feira ao primeiro-ministro a sua demissão do Governo.
O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, demitiu-se esta sexta-feira do Governo na sequência da caso de Tancos, e sobretudo das suspeitas de encobrimento da operação de devolução das armas roubadas.
Azeredo Lopes justifica a sua saída com a necessidade de evitar que as Forças Armadas sejam "desgastadas pelo ataque político" e pelas "acusações" de que disse estar a ser alvo por causa do processo de Tancos.
"Não podia, e digo-o de forma sentida, deixar que, no que de mim dependesse, as mesmas Forças Armadas fossem desgastadas pelo ataque político ao ministro que as tutela", referiu Azeredo Lopes na carta enviada ao primeiro-ministro e a que a agência Lusa teve acesso.
O ministro cessante voltou a negar que tenha tido conhecimento, "directo ou indirecto, sobre uma operação em que o encobrimento se terá destinado a proteger o, ou um dos, autores do furto".
Quanto ao momento em que decidiu sair, Azeredo Lopes explicou que quis aguardar pela finalização da proposta de Orçamento do Estado para 2019 para "não perturbar" esse processo com a sua saída.
Comentário de Manuel Carvalho, director do PÚBLICO: "Teia de suspeição" ditou demissão
Nova procuradora pediu "cooperação sã" entre polícias
Imediatamente antes da demissão, Azeredo Lopes esteve no Palácio de Belém, na tomada de posse a nova procuradora-geral da República, Lucília Gago. Além do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa e de outros membros do Governo, também o primeiro-ministro António Costa marcou presença na cerimónia. Logo a seguir o titular da pasta da Defesa demitia-se.
Antes, ouviu o que Lucília Gago tinha a dizer sobre o conflito entre a Polícia Judiciária civil e a sua congénere militar. Sem nunca mencionar o caso do material militar roubado em Tantos, a nova procuradora-geral da República declarou, no seu discurso de tomada de posse, que presumia que quer magistrados quer polícias conhecessem o quadro legal de articulação entre o Ministério Público e os órgãos de polícia criminal. Desejando que entre as diferentes polícias imperasse uma “cooperação sã e leal”, Lucília Gago sublinhou que o papel da Polícia Judiciária no combate à criminalidade complexa e altamente organizada a coloca “necessariamente, numa posição de relevo”.
Pouco depois ficava a saber-se que Azeredo Lopes saía do Governo.
Saída já era defendida no seio do Governo
A saída do ministro já era defendida dentro do Governo, como noticiou o PÚBLICO esta sexta-feira.
A demissão era admitida para depois da aprovação do Orçamento do Estado para 2019, caso o ministro não fosse constituído arguido antes, cenário em que a cessação de funções seria imediata. Questionada sobre se Azeredo Lopes é arguido no processo ou poderá vir a ser, a Procuradoria-Geral da República disse que quanto a este caso não há "nada a acrescentar à informação já prestada" e que o inquérito-crime mantém os "nove arguidos constituídos".
O nome do sucessor de Azeredo Lopes não deverá ser conhecido esta sexta-feira, segundo apurou o PÚBLICO. A posse do novo titular do cargo só deverá acontecer na próxima semana.
Marcelo aceitou exoneração
Marcelo Rebelo de Sousa colocou já uma nota no site da Presidência da República em que revela que o primeiro-ministro o informou na demissão de Azeredo Lopes.
“O primeiro-ministro informou esta tarde o Presidente da República do pedido de demissão do ministro da Defesa Nacional, propondo a sua exoneração, nos termos do Art.º 133.º, h) da Constituição, mais tendo acrescentado que oportunamente proporia o nome de um substituto”, é escrito.
“O Presidente da República aceitou a proposta de exoneração e aguarda a proposta de nomeação do sucessor”, acrescenta. Com Lusa