Incêndio destrói Museu Nacional no Rio de Janeiro

Edifício histórico com 200 anos albergava colecções únicas, que terão desaparecido no fogo.

Incêndio deflagrou no fim da tarde de domingo
Fotogaleria
Incêndio deflagrou no fim da tarde de domingo RICARDO MORAES/Reuters
Fotogaleria
MARCELO SAYAO/Lusa
Fotogaleria
MARCELO SAYAO/Lusa
Fotogaleria
MARCELO SAYAO/Lusa
Fotogaleria
MARCELO SAYAO/Lusa
Fotogaleria
MARCELO SAYAO/Lusa
Fotogaleria
Reuters
Fotogaleria
Reuters/PILAR OLIVARES
Fotogaleria
Reuters/PILAR OLIVARES
Fotogaleria
Reuters/PILAR OLIVARES
Fotogaleria
Reuters/RICARDO MORAES
Fotogaleria
Reuters/PILAR OLIVARES
Fotogaleria
LUSA/Antonio Lacerda
Fotogaleria
LUSA/Antonio Lacerda
Fotogaleria
LUSA/Antonio Lacerda

Um incêndio de grandes dimensões destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro. O fogo deflagrou no domingo no edifício com 200 anos e terá queimado mais de 20 milhões de objectos, incluindo achados arqueológicos e outras colecções históricas. Era um dos maiores acervos históricos e científicos do país.

O palácio foi construído quando o Brasil era ainda uma colónia portuguesa, e foi residência imperial.

A sua destruição é “uma perda incalculável para o Brasil”, disse o Presidente Michel Temer num comunicado. “Duas centenas de anos em trabalho, investigação e conhecimento foram perdidas.”

Ainda não se conhece a origem do fogo. O incêndio deflagrou após o encerramento do museu ao público, às 17h (21h em Lisboa), perto das 19h30 (23h30 em Lisboa) e continuou a lavrar durante a noite.

Falta de água nas bocas de incêndio prejudicou combate

De acordo com o comandante-geral dos bombeiros, Roberto Robadey, as duas bocas-de-incêndio localizadas na área do museu estavam sem água, o que dificultou o combate às chamas. Os bombeiros tiveram de esperar por camiões-cisterna. À Folha de S. Paulo, o comandante dos bombeiros diz ter accionado a Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto), mas o problema não foi resolvido.

Diz ainda Robadey que o tipo de construção e o conteúdo do museu contribuíram para a proporção do incêndio, uma vez que o edifício, antigo, continha peças guardadas em álcool.

Ao mesmo jornal, o comandante afirmou que, numa primeira análise, as autoridades acreditam que não existe risco de desabamento. "É um edifício muito antigo, com paredes grossas. Os engenheiros analisaram e não detectaram risco por enquanto."

A perda de um “acervo insubstituível”

O Governo português lamentou “a perda de um acervo histórico e científico insubstituível” do “emblemático” Museu Nacional do Brasil, “assim como pelos danos sofridos pelo próprio edifício, também ele um marco importante da História comum luso-brasileira”.

Num comunicado divulgado na tarde desta segunda-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Governo diz estar “inteiramente disponível para colaborar na procura da reconstituição deste importante património identitário, não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina e do mundo”.

"Uma tragédia anunciada", diz Marina Silva

"A catástrofe que ainda atinge o Museu Nacional neste domingo equivale a uma lobotomia na memória brasileira. O acervo da Quinta da Boa Vista contém objectos que ajudaram a definir a identidade nacional, e que agora estão virando cinza", declarou a candidata presidencial Marina Silva. "Infelizmente, dado o estado de penúria financeira da UFRJ e das demais universidades públicas nos últimos três anos, esta era uma tragédia anunciada", disse a política brasileira na sua página de Facebook.

Os problemas financeiros

Durante anos, o museu foi negligenciado por muitos governos, explicou o vice-director da instituição à televisão Globo. “Nunca tínhamos nada do governo federal”, disse Luiz Duarte. “Recentemente finalizámos um acordo com o BNDES [banco público associado ao Governo] para um investimento maciço, para que pudéssemos finalmente restaurar o palácio e, ironicamente, planeámos a instalação de um sistema de prevenção de incêndios novo.”

"O arquivo de 200 anos virou pó. São 200 anos de memória, ciência, cultura e educação, tudo transformado em fumo por falta de suporte e consciência da classe política brasileira", afirmou o responsável. "O meu sentimento é de imensa raiva por tudo o que lutamos e que foi perdido na vala comum".

Segundo disse, no aniversário de 200 anos da instituição nenhum ministro de Estado aceitou participar na comemoração: "É uma pequena mostra do descaso". 

Em 2015, o museu fechou durante dez dias depois de uma greve de funcionários da limpeza, que reclamavam salários atrasados. Os alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da universidade chegaram a criar "memes" (imagens ou vídeos que se espalham de forma viral) em que mostravam fósseis à espera de verba, ironizando os cortes.

Nas redes sociais, investigadores, políticos, alunos e professores brasileiros partilham depoimentos, lamentando o ocorrido e atribuindo a tragédia aos cortes orçamentais dos últimos anos.

Museu era um dos mais ricos do país

O edifício, inaugurado como museu em 1818, foi a residência de D. João VI. Estava actualmente ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Ministério da Educação. Nele estavam guardadas colecções de referência, como artefactos egípcios e os fósseis humanos mais antigos do Brasil. As suas colecções de Etnologia davam testemunho da riqueza das culturas indígenas, das culturas afro-brasileiras e das culturas do Pacífico.

Segundo a edição brasileira do El País, o acervo tinha ainda o maior e mais importante acervo indígena e uma das bibliotecas de antropologia mais ricas do Brasil.

Segundo um comunicado publicado no site do museu em Junho, o BNDES acordou um financiamento de 21,7 milhões de reais (4,5 milhões de euros) para “restaurar o edifício histórico” e também para “garantir uma maior segurança das suas colecções”.