Jovens do Bloco vão aprender a evitar machismos - e a "geringonça"

Acampamento Liberdade arranca nesta quarta-feira em Castelo de Bode, para falar sobre tudo mas sem decidir. Não haverá moções nem propostas para levar ao Bloco de Esquerda.

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ADRIANO MIRANDA

Mudou o distrito – de Viseu para Santarém -, mas não a vontade de discutir e fazer um mundo diferente. O acampamento Liberdade do Bloco de Esquerda, organizado por jovens e a eles inteiramente dedicado, já vai na 15.ª edição e arranca nesta quarta-feira no parque de campismo de Martinchel, no cenário privilegiado das margens da barragem de Castelo de Bode. Serão quatro dias e meio intensos, com um programa de trabalho de dia e diversão depois do cair da noite para cerca de 250 jovens. A manhã de segunda-feira é para limpezas.

A amplitude e a geografia de temas para debater são enormes, da saída do euro à legalização das drogas, dos direitos das pessoas com deficiência ao “direito à boémia”, da Palestina ao Brasil, da cultura ao racismo, da linguagem inclusiva às alterações climáticas, da habitação ao trabalho sexual. E a lista (e a luta) continua. Para aprender há workshops sobre primeiros socorros, sobre como fazer vídeos para passar a mensagem política e até acerca da “desconstrução da masculinidade tóxica” – ou seja, vão falar sobre “como o machismo interfere na vida em sociedade” e os mecanismos para o evitar ou se defender dele, descreve Xavier Gaspar, da Coordenadora Nacional de Jovens, o órgão do Bloco que organiza o acampamento. E, claro, diversão: depois do cinema, a partir das 23h30 há sempre uma festa - Brasil, anti-racista, feminista e queer são os temas a reinar na pista de dança.

Apesar do peso do Bloco na solução que permite ao PS ser Governo, os jovens bloquistas não estão muito interessados em discutir a “geringonça” – “nem sequer é um tema importante”, assume ao PÚBLICO Xavier Gaspar. “Vai-se falando, mas não haverá um debate muito intenso por cá.” E porquê? “Porque os nossos princípios ideológicos mantêm-se”, vinca o jovem. Porém, o deputado José Pureza vai acordar os jovens no domingo de manhã para lhes falar durante duas horas sobre o “fim do acordo e que outros caminhos pode seguir a esquerda em Portugal”.

Xavier Gaspar destaca os grandes temas da habitação e gentrificação e do racismo como os que mais dizem neste momento à juventude do Bloco. No primeiro caso porque é cada vez mais difícil aos jovens conseguir arranjar casa devido a uma bola de neve que inclui a precariedade no emprego, os baixos salários e a subida do preço da habitação em especial nas grandes cidades devido ao boom do alojamento local ligado ao turismo. E, no segundo, porque os episódios de racismo e xenofobia multiplicam-se em Portugal e um pouco por toda a Europa seja pelo número de migrantes que continuam a chegar ao espaço europeu, seja pelo crescimento de populismos de extrema-direita ou de políticas, em alguns países, dirigidas a etnias minoritárias.

Outros temas que os jovens antecipam que entrarão na ordem do dia a médio prazo são o trabalho sexual e a legalização de um maior leque de drogas. “Não vai sair daqui nenhuma proposta” sobre os temas, assegura Xavier Gaspar. Mas o debate está a ser feito internamente e os jovens do Bloco não têm uma posição definida sobre isso – embora apoiem “um reforço do acompanhamento e do apoio aos trabalhadores do sexo em vez da legalização”, acrescenta. A legalização do uso da cannabis para fins terapêuticos abriu a porta à discussão sobre o próximo passo – o uso recreacional.

O programa dos debates é, por si só, uma cartilha de mensagens bloquista. “Saída do euro: há outra saída?”, “Palestina: existe e resiste”, “Organizar trabalhadores na era da precariedade” (pelos deputados José Soeiro e Isabel Pires), “Legalizar (e regulamentar!) todas as drogas” (com Moisés Ferreira e Joana Pereira), “Brasil: novo golpe, nova ditadura?”, “Direito à boémia: necessidade de vida nocturna para produção e radicalização cultural”, “Ciganofobia”, “A propriedade é o roubo: debate sobre a socialização dos meios de produção” (com Joana Mortágua e Márcia Silva Pereira), ou “Desobediência civil: como, porquê e para quê” são alguns exemplos.

Por Martinchel passarão não só deputados do Bloco e a coordenadora Catarina Martins – mas só para falar sobre política, no sábado -, como jovens activistas de esquerda estrangeiros, essencialmente do Brasil e da Catalunha – e talvez também da Irlanda.

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