Henrik da Dinamarca vai continuar a protestar mesmo depois de morto
Depois de uma vida a queixar-se por não ter sido rei, Henrik leva o protesto para a tumba e recusa ser enterrado no mausoléu real, ao lado da rainha Margarida.
O anúncio feito pela Casa Real da Dinamarca esta sexta-feira pode ter surpreendido, mas não será totalmente surpreendente para os dinamarqueses, nem para quem acompanha com atenção os temas em torno das famílias reais europeias.
Henrik, o francês que está casado há 50 anos com a rainha Margarida, quis deixar claro que não pretende ser enterrado com a mulher no mausoléu real da catedral de Roskilde. O motivo? O ressentimento nunca ultrapassado pelo facto de nunca lhe ter sido atribuído o título de rei consorte.
“Não é segredo para ninguém que durante muitos anos o príncipe esteve descontente com o papel e o título que lhe foram atribuídos na monarquia dinamarquesa”, afirmou ao jornal BT a porta-voz da Casa Real, Lene Balleby.
“O descontentamento foi crescendo cada vez mais nos últimos anos”, afirmou Balleby, citada por diversos meios de comunicação internacionais. “Para o príncipe, a decisão de não ser enterrado ao lado da rainha é a consequência natural de não ter tido um tratamento igual ao da mulher – de não ter nem o título, nem o papel que desejaria ter”, afirmou a porta-voz da Casa Real ao tablóide dinamarquês.
Henrik (Henri Marie Jean André de Laborde de Monpezat), de 83 anos, casou-se com a rainha Margarida II em 1967 e foi-lhe atribuído o título de príncipe. Ao longo dos anos foi ficando evidente que o título não lhe chegava, ao ponto de ter abdicado dele, em Abril do ano passado, depois de várias demonstrações públicas de descontentamento.
Um dos episódios mais marcantes ocorreu em 2002, quando Henrik abandonou a Dinamarca para se instalar num castelo no Sul de França. O curto exílio de três semanas foi justificado pelo príncipe com o facto de se ter sentido relegado para um papel de terceira linha na monarquia depois de ter visto o príncipe herdeiro Frederico ser nomeado substituto da rainha numa recepção de Ano Novo, quando Margarida estava fora do país.
Já a Casa Real dinamarquesa sustenta que a prática está em linha com o que fazem as outras monarquias europeias – o que aparentemente nunca convenceu Henrik, que desde que se reformou, no início do ano passado, raramente é visto em público e passa grande parte do tempo na sua propriedade francesa.
Nascido em Talence, perto de Bordéus, filho de um empresário com negócios na Ásia, Henrik estudou Direito e Ciências Políticas na Sorbonne. Em 1963, depois de ter servido o Exército francês na guerra da Argélia, foi trabalhar como secretário da embaixada francesa em Londres, onde esteve até 1967. No mesmo ano casou-se com a herdeira ao trono dinamarquês na escola naval de Copenhaga.
Nascido naquilo que se pode chamar um “berço de ouro”, talvez seja por isso que esta sua permanente insatisfação com o lugar de “número 2” da monarquia dinamarquesa tem sido duramente criticada por quem acompanha de perto os temas da monarquia. O anúncio desta sexta-feira não foi excepção.
“Vou dizê-lo sem rodeios: o príncipe Henrik é um velho pomposo e petulante com pouca consideração pela sua mulher, que por acaso é a soberana e chefe de Estado da Dinamarca, e pelo seu filho, o príncipe da coroa e herdeiro, Frederico”, lê-se no blogue Royal Musings, da especialista em assuntos da família real britânica Marlene Eilers Koenig.
Noutro site especializado, o www.royalcentral.co.uk, o seu editor, Charlie Proctor, também não poupa críticas ao francês: “Coitado do pobre príncipe Henrik, que teve de lidar com cartas más toda a sua vida. O pobrezinho nasceu numa família rica e casou-se com a futura rainha da Dinamarca. Deve ter tido uma vida difícil, sendo meramente príncipe consorte.”
E, para que não restem dúvidas, Proctor diz que Henrik nunca poderia ser rei, porque esse é um título superior ao de rainha. É por isso que as princesas que se casam com reis podem ser rainhas, mas quem se casa com uma rainha nunca passará de príncipe.
O marido da rainha Dinamarca é ainda comparado em termos pouco elogiosos com o príncipe Filipe, o marido da rainha Isabel II de Inglaterra, que se reformou aos 96 anos, “depois de toda uma vida” dedicada ao Reino Unido, à Commonwealth e à rainha, sem “nunca se ter queixado por ser o ‘número 2’ de uma mulher”.