Macron e o seu Governo apanhados nas malhas da ética

Ministra da Defesa demitiu-se, ministros do MoDem sob pressão para se demitirem devido a suspeitas de caso de empregos fictícios no Parlamento Europeu. Remodelação pós legislativas é conhecida esta quarta-feira.

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Sylvie Goulard demitiu-se do Ministério da Defesa REUTERS

Se a República em Marcha de Emmanuel Macron ganhou tudo o que havia para ganhar, com a promessa de virar do avesso a política francesa e torná-la mais ética, a justiça contra-ataca. Não só os ministros do Movimento Democrático (MoDem) estão a cair ou a ser pressionados para sair do Governo na remodelação pós-legislativas, como uma viagem de Macron a Las Vegas, enquanto ministro da Economia, está a ser alvo de um inquérito preliminar por “favoritismo”, por ter sido atribuída sem concurso público a organização de um evento.

O inquérito que visa a actividade de Macron enquanto era ministro da Economia de Manuel Valls foi aberto em Março, mas esta terça-feira foram feitas buscas na sede do grupo publicitário Havas e da agência nacional Business Finance ordenadas pelo Organismo Central de Luta Contra a Corrupção e Infracções, diz o Le Monde. Em causa está uma French Tech Night, promovida em 2016 na grande feira de electrónica CES.

A agência de promoção das empresas francesas no estrangeiro – que em 2016 era dirigida pela agora ministra do Trabalho, Muriel Pénicaud – é suspeita de ter confiado a este gigante da publicidade a organização de um evento na feira Consumer Electronics Show (CES), sem ter organizado um concurso público. Nesse evento, que custou cerca de 400 mil euros, esteve presente Emmanuel Macron, dizia em Março o semanário Le Canard Enchaîné.

Sylvie Goulard, a ministra da Defesa de Emmanuel Macron, quer demonstrar a sua “boa fé” e pediu para não continuar no Governo, pois o seu partido, o MoDem, está a ser investigado por usar empregos fictícios no Parlamento Europeu para se financiar. Mas o mesmo não acontece com François Bayrou, o líder do partido e ministro da Justiça, que apoiou Macron, ironia das ironias, na condição de fazer aprovar legislação para a “moralização da vida política”.

Esta quarta-feira, será apresentado o novo Governo francês, remodelado, após a esmagadora vitória nas legislativas da República em Marcha e do seu aliado MoDem. Mas o que poderia ser apenas um ajuste está a transformar-se num verdadeiro caso, por causa dos ministros atingidos por suspeitas de falhas de ética.

Próximos do Presidente estão a pressionar Bayrou para que deixe pelo seu pé o Ministério da Justiça, diz o Le Monde. Mas o primeiro-ministro Edouard Philippe diz que Bayrou “tem vocação” para permanecer no Governo. O mesmo poderá não acontecer, no entanto, com a ex-eurodeputada Marielle de Sarnez, a sua número dois no partido e até agora secretária de Estado dos Assuntos Europeus, cujo nome é directamente visado nas suspeitas do uso de empregos fictícios no Parlamento Europeu. Sarnez “não exclui” a possibilidade de estar ausente do Governo que será anunciado quarta-feira à tarde.

Bernard Accoyer, secretário-geral d’Os Republicanos, exigiu a Philippe que peça a demissão de Bayrou e Sarnez. Mas a sua força de pressão já viu melhores dias. A recomposição do sistema político francês continua a golpes de machado: um grupo de deputados republicanos mais moderados ameaça formar um grupo parlamentar separado.

Quanto ao ex-socialista Richard Ferrand não será reconduzido no Ministério da Coesão Territorial, embora seja chutado para cima: este macronista de primeira hora deixa o Governo e passará a ser o líder do grupo parlamentar da República em Marcha. Mas está a ser alvo de uma investigação preliminar por causa das suspeitas de ter favorecido a sua companheira num negócio de venda de imobiliário na região da Finisterra, pela qual é eleito deputado há anos.

Macron prometeu que nenhum ministro do seu Governo poderia estar sob investigação judicial formal. Qualquer um destes ministros pode vir a estar nesta situação – percebe-se que tenha interesse em fazê-los desembarcar o mais rapidamente possível do Governo, embora isso possa afastar um partido aliado, no caso do MoDem. Se as suspeitas caírem sobre si próprio, então, a mácula será mais difícil de apagar.

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