O Parque Verde de Alcobaça e o problema arqueológico

Quem nos garante que a estrutura agora descoberta não faz parte de um complexo arqueológico de maior dimensão?

Considerando a diversidade de povos, civilizações e culturas que, no período pré-cisterciense, tiveram assentamento por terras de Alcobaça, parece-nos perfeitamente natural a recente descoberta de estruturas fundacionais de um edifício (Templo? Mausoléu?) na obra do futuro Parque Verde da cidade de Alcobaça. Segundo os especialistas, os achados arqueológicos poderão ser datáveis do período romano. Na verdade, as dúvidas acerca das estruturas encontradas são, logicamente, muito maiores do que as certezas; porém, subsiste a firme convicção de que esta descoberta poderá constituir um contributo fundamental para um saber mais amplo e mais profundo da história de Alcobaça, em virtude da existência de um vazio de conhecimento histórico-arqueológico do espaço da cidade, no período que decorre entre as épocas romana e medieval.

Em virtude das características geomorfológicas, e ainda pela riqueza hídrica do sítio de implantação do futuro Parque Verde, trata-se de um lugar que segue os padrões exigidos para a fixação humana; por conseguinte, e de acordo com o princípio enunciado, este lugar poderá comportar maior quantidade de testemunhos arqueológicos. Para um conhecimento mais profundo da estrutura agora descoberta, deverá ser concedida à equipa de arqueologia a trabalhar no terreno a possibilidade de alargar o raio de sondagem ao limite que considerar suficiente para a compreensão dos achados já realizados, bem como para verificar se existem outras estruturas arqueológicas contíguas aos mesmos.

Neste momento, quase nada ainda se pode afirmar sobre as estruturas descobertas; no entanto, impõe-se a seguinte questão: quem nos garante que a estrutura agora descoberta não faz parte de um complexo arqueológico de maior dimensão? Se for esse o caso, as sondagens arqueológicas deverão desenvolver-se ao mesmo tempo que decorre a obra; pois, se as mesmas forem suspensas para serem retomadas em 2018, os estudos arqueológicos a desenvolver ficarão condicionados pelas estruturas do Parque Verde já concluídas, dado que a mesma obra tem um prazo para inauguração anterior ao mês de Outubro de 2017. Por conseguinte, é de toda a conveniência que a equipa de arqueologia retome os trabalhos de prospecção que, entretanto, foram suspensos.

É nosso parecer que o estudo, a preservação e valorização das estruturas arqueológicas descobertas só valorizarão o projecto do Parque Verde de Alcobaça. Para além de um espaço de desporto e lazer, não poderá o Parque Verde constituir igualmente um espaço de inteligibilidade histórica e um lugar de Cultura? A par da salvaguarda e preservação de parte da conduta do antigo sistema hidráulico que abastecia a Abadia Cisterciense de Alcobaça, não poderão ser respeitadas e conservadas as estruturas arqueológicas pré-cistercienses que já foram descobertas, bem como as que ainda possam vir a ser encontradas na área do parque? Não poderá o Parque Verde ser dotado da vertente turístico-cultural, constituindo um ponto de partida ou de chegada de um Roteiro Arqueológico de Alcobaça, contribuindo, assim, para uma permanência mais alargada dos visitantes no concelho? Atentando ao superior interesse no desenvolvimento sustentado, bem como na maior dinâmica da cidade e do concelho de Alcobaça, todas as questões nos parecem indubitavelmente de resposta afirmativa.

Em suma, o Parque Verde poderá constituir um exemplo de perfeita convivência entre o passado e o presente; entre a modernidade e a herança cultural que nos foi legada. Que melhor exemplo de respeito, salvaguarda, conservação e valorização do Património Cultural podemos nós transmitir às gerações presentes e vindouras? Sim. Em Educação (patrimonial), a maior força provém do bom exemplo.

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