Trump irá continuar os ciberataques contra a Coreia do Norte?

Obama deu luz verde a um programa secreto de cibersabotagem dos lançamentos de mísseis norte-coreanos que lembra o do vírus Stuxnet, usado contra o Irão.

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Obama deu ordem para avançar com este programa em 2014 Kevin Lamarque/REUTERS

Durante os últimos três anos, os Estados Unidos lançaram ciberataques contra a Coreia do Norte para sabotarem o desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais capazes de atingir o território dos EUA. E se muitos lançamentos de foguetões ou mísseis falharam, é difícil de avaliar se foi por causa da sabotagem norte-americana, ou por problemas da tecnologia.

Uma investigação do jornal New York Times revelou a estratégia secreta lançada pela Administração Obama para tentar travar a ofensiva norte-coreana, baseada no desenvolvimento de mísseis intercontinentais capazes de atingir o território norte-americano com cargas nucleares. As dificuldades tecnológicas são grandes, mas o regime de Pyongyang tem dado passos de gigante desde o fim da URSS, pois acolheram cientistas soviéticos que levaram os conhecimentos e tecnologia balística e nuclear para a Coreia do Norte.

Segundo relatam os jornalistas David Sanger e William Broad, os ciberataques norte-americanos recordam bastante o software malicioso Stuxnet, desenvolvido em colaboração com Israel para atacar as centrifugadoras nucleares iranianas. Mas a Coreia do Norte é um alvo mais complexo: “Os mísseis são disparados de múltiplos locais no país, e mudados de sítio em plataformas de lançamento móveis, num jogo elaborado concebido para enganar os adversários. Para um ataque com sucesso, o timing é crucial.”

Os militares norte-americanos adoptaram uma nova abordagem, que há alguns anos vem sendo defendida nos meios especializados, nomeadamente pela Raytheon, a empresa que mais contratos de defesa tem com o exército norte-americana na área dos mísseis, diz o New York Times. A ideia é neutralizar os projécteis ainda antes do lançamento, ou logo a seguir – e não quando estes já fizeram grande parte da viagem rumo ao alvo.

Responsáveis militares têm defendido que esta é uma estratégia revolucionária – mas também há vozes críticas, que dizem não haver confirmação de que as falhas nos lançamentos na Coreia do Norte possam ser atribuídas à cibersabotagem americana.

A decisão de iniciar os ciberataques contra a Coreia do Norte foi tomada no início de 2014 por Barack Obama, depois de  ter concluído que os 300 mil milhões de dólares gastos desde os tempos do Presidente Eisenhower em sistemas antimísseis tradicionais – cujo método de acção costuma ser descrito como fazer chocar “uma bala contra outra bala” – não cumpriram o objectivo de proteger o território dos EUA. Os interceptores colocados na Califórnia e no Alasca têm uma taxa de falhanço de 56%, mesmo em condições quase perfeitas – em situação de combate, terão resultados muito piores.

Falta agora saber o que fará a Administração de Donald Trump com este programa, que foi mantido em segredo durante todo este tempo – embora fossem avançados indícios da sua existência, aqui e ali, relata o jornal de Nova Iorque. “Somos tão obsoletos na área ciber”, queixou-se Trump em tempos, para grande irritação dos responsáveis do Ciber Comando dos EUA e da Agência de Segurança Nacional. A decisão do Presidente terá importantes repercussões.

 

 

 

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