Uma das palavras mais necessárias a quem vive da escrita é "irritante". Temos de andar sempre irritados. É a irritação que nos faz escrever. Dizemo-nos indignados. Confessamo-nos enfurecidos. Às vezes até é fingimento mas os adjectivos são sempre os mesmos e acabamos por abusar deles.
A palavra que me faz mais falta é zangativo. É pena não existir. O apelativo apela, o elucidativo elucida e o zangativo zanga. Mas não é tão simples. O digestivo digere, o rotativo roda e o diminutivo diminui, mas o lenitivo alivia e o putativo não puteia.
Se puser zangativo no Google só aparecem três resultados, nenhum deles relevante. Que mal fez este neologismo tão simples para ser tão pouco considerado? Não são zangativas quase todas as notícias?
"Irritante" é irritante. Apresentamo-nos como pilhazinhas de nervos, sempre irritadas por dá-cá-aquela-palha, como se fosse esse o nosso meio de locomoção, por tremelique repetitivo do músculo ofendido.
Irritarmo-nos faz com que se confundam os nossos pruridos com o acto deselegante de coçarmo-nos. Escrever confunde-se com dermografismo: é como mostrar em público os traços brancos das nossas unhas na nossa pele.
Já não há paciência para alternativas rebuscadas como "insuportável" ou "encanitante". A pessoa que não se irrita nem se enfurece continua a ter o direito de se zangar, muito simplesmente.
É verdade que os neologismos são mais irritantes do que zangativos mas não é por isso que um ou outro deixa de ser necessário. E verdade.