Governo quer acolher yazidis e critica burocracia grega

A iniciativa partiu da eurodeputada socialista Ana Gomes. A Grécia não desbloqueia o processo, alegando discriminação na selecção de refugiados.

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Ana Gomes com Lamya Taha, de 18 anos, da comunidade de Yazidis, escrava do EI durante dois anos Enric Vives-Rubio/Arquivo

O Governo português quer receber 470 refugiados da comunidade yazidi, uma minoria religiosa pré-cristã iraquiana, que aguarda em campos de refugiados na Grécia, e critica o executivo grego por estar a bloquear o processo.

A iniciativa de acolhimento partiu de Ana Gomes, que tem um plano organizado há seis meses, detalha o Diário de Notícias esta segunda-feira. A eurodeputada socialista enviou este mês uma carta ao ministro grego do Interior, Ioannis Mouzalas, depois de ter estado em Indomeni e Tessalónica. "A sua preferência era a Alemanha, onde há uma grande comunidade, mas como para aí não era possível, concordaram em vir para Portugal, em vez de continuarem nos campos", afirma Ana Gomes ao DN.

No entanto, o governo de Alexis Tsipras alegou que de acordo com as regras europeias não é permitido critérios de discriminação na selecção dos refugiados, não sendo permitido escolher segundo etnias ou religiões – e que as prioridades são as situações de maior vulnerabilidade.

"Mas querem maior vulnerabilidade do que a dos yazidi que tanto já sofreram nas mãos do Daesh [Estado Islâmico]?", respondeu a eurodeputada Ana Gomes, numa resposta assinada também pelo presidente da Comissão das Liberdades Cívicas do Parlamento Europeu, o britânico Claude Moraes.

"Todo este processo tem sido kafkiano. Desde exigirem um pré-registo de todos os que queriam vir, que fizemos, depois quererem um registo com entrevistas via Skype, quando todos sabem que nos campos de refugiados a rede de Internet é muito complicada", conta a eurodeputada ao mesmo jornal.

Fonte do gabinete do ministro-adjunto Eduardo Cabrita, que tem estado a coordenar o acolhimento dos refugiados, confirmou ao diário que "este foi um dos temas abordados numa reunião, em Setembro, em Lisboa, com o ministro-adjunto grego da Defesa Nacional, Dimitrios Vitsas".

O Governo português admite até abrir uma excepção de forma a garantir a coesão do grupo, composto essencialmente por famílias, mulheres e crianças e não os dispersar por vários pontos do país, como tem sido prática por forma a evitar uma “guetização”, dificultando a sua integração e, por outro lado, facilitando que sejam alvo de grupos criminosos.

"O grupo de yazidis tem revelado grande coesão, responsabilidade e sentido de solidariedade comunitária. Apesar de o paradigma de acolhimento português ser descentralizado, procurar-se-á, na medida do possível, respeitar as especificidades e o forte sentido comunitário deste grupo", sublinha a porta-voz de Eduardo Cabrita.

Para que o processo se conclua, a comunidade de migrantes terá de “de proceder ao pré-registo na Grécia e indicar Portugal como primeira opção de acolhimento, o que nem sempre ocorre”, lembra a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, também ao DN.

A Grécia tem cerca de 60 mil refugiados dentro das suas fronteiras e o esquema de recolocação decorre com muita lentidão. "Não se percebe porque não aceitam a nossa ajuda. Têm que começar a recolocá-los para algum lado", conclui Ana Gomes.

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