Extrema-direita à frente da CDU na região por onde Merkel é eleita

Pela primeira vez o AfD pode ficar à frente da CDU numas eleições. Sociais-democratas deverão ser os mais votados em Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental.

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Apoiantes da AfD festejam as primeiras projecções após o fecho das urnas Daniel Bockwoldt / AFP

Os piores pesadelos da chanceler alemã Angela Merkel parecem ter sido confirmados. As primeiras projecções das eleições regionais deste domingo no estado do Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental dão o segundo lugar ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), à frente dos democratas-cristãos da CDU.

Em termos práticos, pouco deverá mudar neste estado no Nordeste da Alemanha. Os sociais-democratas do SPD venceram as eleições com mais de 30% dos votos, segundo a projecção da televisão pública ARD, e deverá manter a coligação com a CDU no governo regional. A AfD aparece com 21%, os democratas-cristãos têm 19% e o Die Linke, partido que congrega antigos comunistas, alcançou mais de 12%. De fora ficaram os neo-nazis do NPD, que não conseguiram ultrapassar o limiar mínimo de 5% — este era o único estado alemã onde esta formação estava representada.

Os resultados representam um raro revés para Merkel, que procura um quarto mandato no próximo ano. Pela primeira vez, a AfD — uma formação política fundada em 2013 por um grupo de académicos eurocépticos, mas que recentemente adoptou uma agenda xenófoba e anti-refugiados — conseguiu ficar à frente da CDU numas eleições. Pior ainda, é neste estado-federado que Merkel costuma encabeçar as listas dos democratas-cristãos nas eleições gerais. O líder regional da AfD, Leif-Erik Holm, declarou que este resultado representa “o início do fim para a chanceler Merkel”.

A AfD tem tido alguns bons resultados em vários estados alemães. Na Alta Saxónia, por exemplo, conseguiu um segundo lugar, atrás dos democratas-cristãos — obrigando a uma coligação entre a CDU, o SPD e os Verdes para governarem o estado.

A formação de extrema-direita tem aproveitado o medo e a insegurança sentidos por alguns sectores do eleitorado alemão em relação à política de acolhimento de refugiados do governo de Merkel. Há precisamente um ano, a chanceler anunciou a disponibilidade da Alemanha em receber todos os requerentes de asilo que estavam naquele momento em trânsito no espaço Schengen, acabando por acolher um milhão de refugiados. Este ano, a Alemanha deve receber ao todo 300 mil pessoas, maioritariamente de origem síria e iraquiana, que fogem dos conflitos e da instabilidade nos seus países.

Porém, o estado do Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental não foi propriamente “inundado” por refugiados do Médio Oriente, como quis fazer crer a AfD durante a campanha eleitoral. Segundo a Economist, a região tem cerca de 23 mil refugiados, equivalente a 1,5% da população total de 1,6 milhões.

A radicalização do discurso e do programa da AfD deu-se no ano passado, com a subida à liderança de Frauke Petry, já em choque com os fundadores do partido. Em Janeiro, a líder do partido provocou um escândalo ao considerar que a polícia devia “usar armas de fogo” contra os refugiados que tentavam passar a fronteira. 

Depois assegurar a entrada em nove dos 18 parlamentos regionais, e de ter elegido sete eurodeputados em 2014, o próximo grande desafio da AfD é alcançar lugares no Bundestag, o parlamento federal, nas eleições do próximo ano. 

 

 

 

 

 

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