Para a extrema-direita alemã, “o islão não faz parte da Alemanha”

"Conservador e patriota", o novo partido quer reafirmar os "valores familiares tradicionais" e os "aspectos positivos da História alemã". As sondagens para as legislativas de 2017 atribuem 13% ao AfD.

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Jörg Meuthen e Frauke Petry, os dois rostos da nova extrema-direita alemã Philipp Guelland/AFP

O partido que começou por ser anti-euro e que cresceu ao afirma-se como anti-imigração apresentou-se definitivamente como anti-islão no congresso que reuniu 2400 dos seus membros em Estugarda este fim-de-semana. No manifesto aprovado no encontro da Alternativa para a Alemanha (AfD) há todo um capítulo intitulado “O islão não faz parte da Alemanha”.

A ideia era que a reunião em Estugarda, no Sul da Alemanha, permitisse ao movimento que já elegeu deputados em 16 parlamentos regionais alargar a sua plataforma, com discussões sobre economia e segurança social. Mas o debate foi marcado por tiradas antimuçulmanas, ainda que um dos participantes se tenha oposto ao capítulo dedicado à religião de 5% dos alemães.

Ernst-August Roettger, delegado da cidade de Lüneburg, sugeriu que a linguagem usada no programa se opõe à Constituição alemã e defendeu que é preciso distinguir entre islão e islamismo, apelando aos alemães “para iniciarem um diálogo com as suas comunidades muçulmanas locais”, intervenção apupada por muitos na assistência. Já a resposta foi muito aplaudida: “O islão é estrangeiro para nós e por isso não pode invocar o princípio da liberdade de expressão no mesmo grau que o cristianismo”, retorquiu Hans-Thomas Tillschneider, deputado no estado da Alta Saxónia.

O argumento usado por Tillschneider parece fazer tanto sentido como um manifesto de 1400 páginas onde se afirma que o partido respeita a liberdade religiosa mas se pede a proibição dos minaretes (torres das mesquitas), da burqa (túnica e véu que cobrem o corpo e todo o rosto) e niqab (véu que deixa apenas os olhos a descoberto). Os minaretes, escreve-se no texto, são “símbolos do poder islâmico”.

“O nosso programa é a estrada para uma Alemanha diferente”, afirmou aos participantes Jörg Meuthen, porta-voz e co-presidente do AfD com Frauke Petry. Isto é “apenas o início”, disse Meuthen no mesmo dia em que uma sondagem publicada no jornal Bild sobre as legislativas do próximo ano atribuía 13% de intenções de voto ao partido, que assim se tornaria na terceira força política alemã.

“No Verão de 2015 davam-nos como mortos”, afirmara Petry na abertura do congresso, sábado, sublinhando os sucessos surpreendentes dos últimos tempos, com os bons resultados nas regionais de Março. Nascido há três anos, o partido beneficiou do descontentamento face à decisão da chanceler Angela Merkel de abrir as portas à entrada de um milhão de refugiados e imigrantes ao longo do ano passado.

Família e História

O AfD apresenta-se como “conservador, livre e patriota” e entre as propostas já aprovadas para integrarem o programa consta o fim da moeda única, a defesa das fronteiras da Alemanha, a deportação de estrangeiros condenados por crimes, o regresso do serviço militar obrigatório e o reafirmar dos “valores familiares tradicionais e da cultura nacional”.

Meuthen, que descreve o partido como uma mistura entre “conservadorismo moderno” e “patriotismo são”, defendeu que é preciso valorizar “os aspectos positivos da História alemã”, lamentando que a memória oficial “se reduza” ao passado nazi. Não é certo o que sobrou da proposta inicial de manifesto (houve 1500 propostas de alterações e ainda se votava à hora a que o encontro deveria ter terminado), mas na versão original constava a ideia de “obrigar os professores a porem fim ao ‘excesso de ênfase’ na era nazi”.

Para contrabalançar o tom geral dos debates, o AfD aprovou uma moção para dissolver o seu ramo no estado de Sarre, depois de se saber que alguns dos seus membros têm laços a grupos neonazis. 

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