Objectivo: viver na galáxia de Star Wars "o tempo todo"
Novidades do novo filme, Rogue One, novas personagens na série de animação Rebels e o velho entusiasmo com Darth Vader ou Luke e Leia - o PÚBLICO esteve na Star Wars Celebration em Londres.
Um fim-de-semana dedicado ao universo Star Wars significa milhares de pessoas a correr com sabres de luz iluminados, stormtroopers, Princesas Leia, Han Solos ou Darth Vaders sempre ao virar da esquina. O centro de exposições ExCel, na zona leste de Londres, recebeu 20 mil pessoas num evento que não só perpetua (e celebra) a saga mas levanta a ponta do véu sobre o que vem aí: o primeiro filme spin-off Rogue One: A Star Wars Story, o Episódio VIII, a terceira temporada da série de animação Rebels, os novos videojogos.
Nos vários palcos e pavilhões da Star Wars Celebration Europe há sessões de perguntas e respostas com actores e produtores, exposições com os figurinos das personagens, uma experiência de realidade virtual, campeonatos de videojogos e muitas filas - o acesso é limitado a algumas das conferências. Ao longo dos três dias, os fãs podiam ainda tirar fotografias com Carrie Fisher ou Mark Hamill (os preços para as fotografias e autógrafos ascendiam às 145 libras, equivalentes a 173 euros, mas isso não impediu as filas infindáveis). Foram eles, a Princesa Leia e Luke Skywalker, os mais procurados e os que tiveram as recepções mais apoteóticas. No último painel do evento, dedicado aos futuros filmes, receberam uma ovação. “Só vim aqui para ter a certeza que o Gary [o seu cão] consegue um papel no novo filme. Não há animais suficientes no espaço”, brincou Fisher com uma audiência de smartphone em punho, a tentar capturar cada momento e à espera de mais informações sobre o Episódio VIII, previsto para Dezembro de 2017.
Os fãs ansiavam por saber o título do próximo episódio de Star Wars mas nem o realizador Rian Johnson nem Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm, lhes fizeram a vontade. Mas só no painel que encerrou a convenção e dedicado aos futuros filme, a que o PÚBLICO assistiu, o realizador confirmou que o filme começará exactamente onde o anterior (O Despertar da Força, 2015) terminou - será a primeira vez que dois episódios de Star Wars não terão um salto temporal entre si - e que a sua principal inspiração foi Almas em Chamas, de 1949, com Gregory Peck. “Foi uma maneira surreal de começar as coisas. Eu nem pensei realmente sobre o facto de irmos quebrar uma longa tradição de Star Wars”, disse Johnson nesse final de dia de domingo, entre os elogios da responsável da Lucasfilm, que o comparou a Steven Spielberg.
Christopher Miller e Phil Lord, os realizadores do filme sobre a história de Han Solo (que se estreia apenas em Maio de 2018), também subiram ao palco para confirmar que o actor norte-americano Alden Ehrenreich, de 26 anos, foi o escolhido para interpretar a versão jovem da personagem icónica de Harrison Ford.
Ao fim da tarde de domingo, o tempo quente invulgar em Londres fez derreter algumas pinturas e obrigava stormtroopers a andar sem capacete. Um Darth Vader de sete anos, acompanhado por um Jedi adulto de longa capa castanha, brinca com um dróide BB-8 telecomandado no pavilhão do merchandising, onde existem também várias actividades para crianças, entre as quais a luta entre personagens em versão insuflável. “A primeira coisa de que ele gostou nos filmes foi a batalha entre os Jedi e o lado negro da Força. Eu cresci com os filmes portanto é difícil não lhe passar este universo”, conta o pai, John, que acredita que a presença de Star Wars noutras plataformas, como os videojogos, é importante para os mais pequenos conhecerem as personagens e estimular a sua imaginação.
Assunto de família
Star Wars é um “assunto de família”, diz Dave Filoni, produtor executivo da série de animação Star Wars Rebels – um dos primeiros novos projectos da Lucasfilm depois de ter sido comprada pela Disney em 2012 por quatro milhões de euros – e estrela de vários painéis ao longo dos três dias do evento. Rebels passa-se cinco anos antes da trilogia original de Star Wars, entre o Episódio III (A Vingança dos Sith, 2005) e o IV (A Guerra das Estrelas, 1977) e segue um grupo de rebeldes que luta contra o Império Galáctico.
“A animação é sempre vista como algo para crianças. O que eu acho que é interessante e funciona com Rebels é a forma como tentamos tirar o máximo proveito dos filmes”, diz ao PÚBLICO Filoni, numa mesa redonda sobre a série, considerando que a animação é uma “boa maneira” de introduzir os mais novos no universo de Star Wars. É uma maneira “divertida” de as crianças entrarem na saga”, continua. A primeira temporada é “entusiasmante, leve e bem-disposta” e o personagem principal, Ezra, é mais descontraído; na segunda temporada evolui para uma “viagem mais real e séria”. “Rebels não estaria a funcionar bem se não reflectisse a vida real”, e ao mostrar os desafios e “as consequências das acções conforme [as personagens] crescem” é uma forma de se relacionar com as crianças.
Filoni, que participou num dos painéis principais do terceiro e último dia da convenção, sobre a arte do storytelling na Lucasfilm, comenta que num universo tão grande como o de Star Wars, presente em tantas plataformas, não se pode “contar sempre a mesma história” ainda que utilize o mesmo imaginário. “Rebels conta a história de um rapaz. A ideia de que havia mais rapazes além do Luke Skywalker era estimulante”, comenta, e isso faz com que os próprios espectadores, sejam crianças ou mais velhos, "não se sintam tão sozinhos".
Uma das grandes novidades da nova temporada da série de animação, e que levou o auditório de cinco mil pessoas a um verdadeiro estado de histeria, é a inclusão de Thrawn na terceira temporada. “É uma personagem que diz muito a muitas pessoas”, comenta sobre a figura de pele azul e olhos vermelhos brilhantes.
A presença de Thrawn (cuja voz será a do actor dinamarquês Lars Mikkelsen) - uma personagem do “universo alargado” que confirma assim a sua entrada no cânone - na terceira temporada de Star Wars Rebels já estava a ser pensada e preparada “há algum tempo” para ser “importante”. “Não gosto de trazer personagens ou actores quando é para um papel pequeno. Ele precisava de ter o seu próprio momento”, explica Filoni, concedendo que “sempre que fizer sentido” trará para a série de animação outras personagens fortes. O produtor evita, porém, as perguntas sobre uma possível ligação de Rebels a Rogue One: A Star Wars Story.
Depois do sucesso de O Despertar da Força, Rogue One, o primeiro filme “independente” Star Wars, é a grande novidade deste universo. Estreia-se em Dezembro e vai focar-se num pequeno grupo de rebeldes que tenta obter os planos da estação espacial Estrela da Morte. A intriga situa-se na linha temporal antes do Episódio IV e, como revelaram imagens divulgadas na convenção e ainda não publicadas oficialmente na Internet, conta com a presença do vilão Darth Vader. O furor dos fãs numa das salas da Star Wars Celebration foi grande, já depois de ter sido mostrado um vídeo de bastidores que, em três dias, já tem milhões de visualizações no YouTube.
Nos corredores do pavilhão, o entusiasmo é palpável cada vez que soa a emblemática banda-sonora de John Williams, que também assinala a entrada de actores como John Boyega, Hamill ou Fisher nas conferências. Crianças (e adultos) correm pelas salas com t-shirts da saga, máscaras, balões, tatuagens temporárias, fotografias.
O evento de celebração de Star Wars é, precisamente, uma maneira de estimular a imaginação e o universo da saga, envolvendo os fãs (ainda mais) no lucrativo mundo galáctico. O trabalho da Lucasfilm é manter, crianças e adultos, na galáxia "o tempo todo", dizia Dave Filoni ao início do dia. Assim, as possibilidades para o futuro da Lucasfilm e de Star Wars são “infinitas” mas é preciso fazer “escolhas inteligentes”, diz Lynwen Brennan, vice-presidente da Lucasfilm, na conferência dedicada ao storytelling nos vários títulos da produtora. “Star Wars ou Indiana Jones, por exemplo, são jóias preciosas. Temos de ter cuidado para não exagerar.”
O PÚBLICO viajou a convite da Disney/Lucasfilm