Estou cá para a final

Perdi a minha chance em 2004. O Euro foi cá e, para quem gosta de bola, parecia impossível ir para fora quando as nossas cidades se enchiam do colorido e das emoções de um campeonato europeu de futebol. Mas os voos para o Peru, nessa mesma altura, estavam com um preço imbatível, e assim troquei a possibilidade de ver a Ribeira pintada do azul e amarelo dos suecos, do vermelho, azul e branco dos checos, do amarelo, negro e vermelho dos alemães ou do azul e branco desses gregos que nos levaram à certa, pelo verde e terra de Macchu Picchu.

Não me custou a troca, confesso, mas fiquei com pena que o timing não fosse outro. Assim, acabei por ir seguindo os jogos de Portugal em ambientes improváveis, fora de horas, num hemisfério diferente. Foi por causa disso que não vi crescer o entusiasmo dos que vestiam de vermelho e verde, à medida que íamos deixando para trás cada uma das selecções que nos apareciam pela frente. Não vi, em directo, o Ricardo tirar as luvas e defender aquele penalti marcado pelo inglês Darius Vassell, nem vi, depois, o guarda-redes português marcar o golo que garantiu a nossa passagem às meias-finais. Também não estava no estádio ou em frente a um televisor quando Cristiano Ronaldo e Maniche deixaram para trás a Holanda, levando-nos até à final. Andava por Paracas, Nazca, Arequipa, Puno e Cuzco. Sabia sempre depois o que tinha acontecido, espreitando resumos que surgiam nas televisões de algum café. Mas, no último jogo, naquela final que não merecia ter acabado como acabou, estava em Lima, quase de regresso a casa, sentada no bar do Gran Hotel Bolívar, colada à televisão. Nas outras mesas não havia portugueses, mas ainda recordo a forma como todos torciam por nós e os olhares de simpatia que ofereceram perante aquela taça erguida pelos gregos.

Hoje também não estarei por cá. Se o voo não se atrasar, se as formalidades na alfândega não forem demasiado demoradas, talvez consiga ver o jogo desta noite. Não num hemisfério diferente, mas num continente diferente. Não estarei cá enquanto Portugal tenta ultrapassar a fase de grupos e, fosse eu supersticiosa, diria já que vamos chegar lá, aos quartos-de-final (não foi isso que aconteceu em 2004, quando também estava ausente?). A boa notícia, é que estou de volta antes da final. Se lá chegarmos, hei-de ver o jogo na banda de cá. Vamos fazer de conta que somos supersticiosos e dizer que isso só pode ser bom sinal, sim?

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