O Movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo, afirma-se como líder da oposição
A confirmar-se, a “conquista de Roma” pelo Movimento 5 Estrelas “terá um eco internacional”. Mas o balanço final das autárquicas italianas tem de esperar pela segunda volta e joga-se sobretudo em Milão.
O Governo de Matteo Renzi nem ganhou nem perdeu a primeira volta das autárquicas italianas parciais de domingo mas o Movimento 5 Estrelas (M5S, de Beppe Grillo) conseguiu o objectivo de se tornar no primeiro partido em Roma, confirmando o objectivo de assumir a liderança da oposição, graças à divisão da direita. Nas cinco maiores cidades italianas — Roma, Milão, Nápoles, Bolonha e Turim — nenhum partido venceu na primeira volta. O desfecho é, assim, remetido para a segunda, a 19 de Junho.
A nota mais importante é a iminência da “conquista de Roma” pelo M5S. A sua candidata, Virginia Raggi, uma quase desconhecida, obteve 35% dos votos, dez pontos acima de Roberto Giachetti, do Partido Democrático (PD). Este resultado tem uma explicação: uma elevadíssima rejeição das anteriores administrações da direita e da esquerda.
Beppe Grillo exulta e fala em “resultado histórico”, garantindo que a progressão do movimento “é lenta mas inexorável”. À excepção de Roma e Turim, onde passa à segunda volta, os resultados não foram brilhantes. Mas o M5S sabe que um triunfo em Roma “terá um eco internacional” e “mobilizará as tropas”, servindo de trampolim para a campanha do referendo constitucional de Outubro, onde propõe uma estratégia de “todos contra Renzi”.
A direita apresentou-se dividida em Roma e foi afastada da segunda volta. O mesmo não aconteceu em Milão onde o favorito, Giuseppe Sala, da coligação centro-esquerda, ficou praticamente empatado com Stefano Parisi, do centro-direita.
Em Nápoles, o actual presidente, Luigi De Magistris (esquerda e grupos cívicos), será facilmente reeleito (47%) pois tem mais 19 pontos que o segundo. A candidata do PD ficou fora da segunda volta. Em Bolonha, o presidente cessante do PD, Virginio Merola, com 39,5%, deverá ser reeleito, dada a sua larga vantagem. Em Turim, o presidente e antigo líder do PD Piero Fassino, com 42% dos votos, será desafiado na segunda volta pela candidata do M5S (31%), o que poderá trazer surpresas. Porquê? A direita e a extrema-esquerda poderão apelar ao voto no M5S contra Fassino.
Renzi declarou que não está satisfeito mas que estas eleições têm um significado local e que nacional será o referendo de Outubro. O resultado final de Milão será determinante no balanço político destas eleições. Para o PD seria um bom resultado vencer em Milão, Turim e Bolonha.
Tripolarismo
Em Roma, a Força Itália de Berlusconi recusou a unidade com a Liga, de Matteo Salvini, e o Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni (sucessor da antiga Aliança Nacional). Berlusconi perdeu a aposta e o seu candidato foi humilhado com menos de metade dos votos de Meloni. Em Milão, houve unidade e foi o contrário.
A Força Itália foi ultrapassada nas sondagens pela Liga e Salvini, o “Le Pen italiano”, exige assumir a liderança de toda a direita, o que significaria uma radicalização. A direita liberal recusa a sua liderança mas para se manter competitiva será forçada a aceitar alianças. Mas Salvini quer mais: a hegemonia.
O quadro político tornou-se extremamente instável. O editorialista Federico Geremicca sublinha no La Stampa uma nova geografia política: “O recente bipolarismo italiano (centro-direita contra centro-esquerda) foi decisivamente substituído por um tripolarismo (centro-direita, centro-esquerda e M5S). Mas este parece incubar, por sua vez, um bipolarismo novo e inesperado (centro-esquerda contra M5S).”
Os desafios da segunda volta poderão fornecer mais alguns sinais desta nova instabilidade ou fluidez.
O primeiro “referendo” sobre Renzi