Marcelo explica-se e diz que não vaticinou fim do Governo
O Presidente da República sentiu necessidade de clarificar o que disse quando remeteu para depois das autárquicas o fim do Executivo. Em declarações ao Observador diz: "Não acho que o Governo vá cair".
Marcelo Rebelo de Sousa explicou-se esta manhã sobre o que quis dizer com uma simples frase: "Depois das autárquicas, veremos o que se passa". As palavras do Presidente da República fizeram soar algumas campainhas de alarme, porque a leitura era quase directa: o chefe de Estado estaria a garantir a estabilidade até às eleições de outubro de 2017 e depois logo pensaria no assunto. Nem 24 horas depois e o Presidente da Repúiblica sentiu necessidade de pôr água na fervura e clarificar que afinal não queria dizer nada disso.
Em declarações exclusivas ao Observador, o Presidente da República disse que já tinha referido a tese de que há ciclos políticos em Portugal que terminam com eleições autárquicas e que ele, enquanto Presidente da República, não vai contribuir para a instabilidade até esse ciclo ter chegado ao fim. E mais, que isso não quer dizer que terminada essa fase provoque instabilidade: [O que disse] "foi para se perceber que estava fora de causa nestes dois anos haver instabilidade. E depois também era desejável que não houvesse. Como havia grande especulação sobre certas leis, queria dizer que nada se alterou significativamente desde o começo da legislatura e das minhas funções. A maioria está estável”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
E o problema não se coloca sobretudo porque, acrescentou nas mesmas declarações, não acredita que as eleições autárquicas sejam problemáticas para o Governo de António Costa: "Não acho que o Governo vá cair" por causa das eleições autárquicas.
Ontem, à margem de uma visita ao Exército no Comando das Forças Terrestres da Amadora, o Presidente da República respondeu aos jornalistas sobre o arrefecimento das relações com o Governo. "Desiludam-se aqueles que pensam que o Presidente da República vá dar um passo sequer para provocar instabilidade neste ciclo que vai até às autárquicas. Depois das autárquicas, veremos o que se passa, mas o ideal para Portugal é que o Governo dure e tenha sucesso", disse.
Foi nessa resposta que criou a interpretação que estaria a pôr um prazo no Governo de António Costa e que foi mal vista por PS e BE. Ao Diário de Notícias, a coordenadora do BE, Catarina Martins fez questão de dizer que o partido não está dependente de calendários eleitorais e que não é o Presidente que assegura a estabilidade do Executivo: "A estabilidade depende dos partidos no Parlamento", defendeu.
Na última semana, Marcelo Rebelo de Sousa tem dado alguns sinais de que o caminho lado a lado com o Governo já conheceu dias mais tranquilos. O primeiro foi quando disse, num tom descontraído, que António Costa tinha um "optimismo crónico e ligeiramente irritante”. Depois, foi a questão da revisão dos contratos com os colégios privados, em que se envolveu. E finalmente, a questão das 35 horas de trabalho para a função pública. Segundo o Expresso, Marcelo considera “devastador” o efeito desta medida, neste timing. O PÚBLICO confirmou que a preocupação existe, na Presidência, e que Marcelo espera pela redacção da lei para decidir o que fazer. Não afastando a hipótese de um veto.