Presidente da Macedónia perdoa políticos suspeitos e é acusado de "golpe de Estado"
Manifestantes atiram ovos contra o Palácio Presidencial. União Europeia diz que está em risco "o futuro euro-atlântico do país".
O Presidente da Macedónia anunciou esta terça-feira, de forma surpreendente, que vai amnistiar todos os políticos que estão a ser investigados por suspeitas de crimes. A decisão vai beneficiar principalmente membros do seu próprio partido, e em particular o antigo primeiro-ministro, que foram acusados pela oposição de controlarem juízes, jornalistas, membros da comissão de eleições e vários organismos do sector público.
A decisão de Gjorge Ivanov apanhou de surpresa o país e levou várias centenas de pessoas para as imediações do Palácio Presidencial, em Skopje. Muitos dos manifestantes atiraram ovos contra o edifício e o líder da oposição, Zoran Zaev, acusou o Presidente de estar a protagonizar "um golpe de Estado".
Zaev é ele próprio alvo de um inquérito, mas disse que não aceita ser perdoado – foi ele, enquanto líder dos sociais-democratas, quem tornou públicas milhares de escutas que alegadamente comprometem vários políticos do partido no Governo, o VMRO-DPMNE, da direita.
A divulgação dessas escutas, no ano passado, acabou por levar à saída do primeiro-ministro Nikola Gruevski (também do VMRO-DPMNE) em Janeiro, e à convocação de eleições antecipadas para Junho. A saída de Gruevski e a convocação de eleições fizeram parte de um acordo promovido pela União Europeia, mediante o qual foi criado um painel especial para investigar as acusações – são essas acusações que podem ficar agora por provar devido à decisão do Presidente Gjorge Ivanov.
O chefe de Estado justifica a sua decisão com "a agonia" a que a Macedónia estava a ser sujeita com o arrastar das investigações, mas os seus opositores internos e os responsáveis da União Europeia são unânimes na condenação. Segundo o partido no Governo, as escutas foram fabricadas por agências de espionagem estrangeiras e entregues ao líder da oposição.
O comissário europeu responsável pelas negociações com possíveis futuros membros da UE, Johannes Hahn, disse que decisões como a desta terça-feira podem comprometer para sempre os desejos de integração da Macedónia.
"As acções de hoje do Presidente Ivanov não estão em linha com a minha interpretação do primado da lei", escreveu o responsável no Twitter, concluindo a sua reacção em mais três mensagens: "À luz destes desenvolvimentos, tenho sérias dúvidas de que seja possível realizar eleições credíveis. Os líderes políticos têm de perceber que as medidas a que temos assistido recentemente põem o futuro euro-atlântico do seu país em grave risco. Democracia significa fazer compromissos e servir os cidadãos. Apelo a todos os partidos políticos que regressem à mesa de negociações e que trabalhem em prol das reformas."
Mas o Presidente da Macedónia insistiu no seu argumento para travar as investigações: "A política transformou-se num jogo entre quem abre mais investigações criminais contra quem. A situação está tão emaranhada que ninguém a consegue desemaranhar."
Em Fevereiro, a Macedónia decidiu fechar a fronteira com a Grécia, deixando do outro lado milhares de migrantes que tentavam chegar a outros países europeus.
Organizações humanitárias boicotam centros de detenção para refugiados na Grécia