O MacGyver marciano
Matt Damon desenrasca-se como pode longe da Terra, num entretenimento apenas eficiente.
O que não lhe fica mal mas, conhecendo a tendência “toca-e-foge” de uma filmografia capaz do melhor e do pior (e o anterior Exodus – Deuses e Reis era francamente descartável), nem sempre é bom. Perdido em Marte adapta um best-seller de Andy Weir sobre um astronauta de uma missão de reconhecimento (Matt Damon) que um acidente deixa sozinho em Marte enquanto a tripulação regressa à Terra. Tem sido na ficção-científica que Scott tem assinado os seus melhores filmes, mas há em Perdido em Marte um problema fundamental de raíz que ele não consegue resolver: o guião de Drew Goddard (argumentista de Nome de Código: Cloverfield e realizador de A Casa na Floresta) tem tudo de série B despachada e desenrascada, mas Scott não é capaz de dar a primazia a esse “núcleo” de filme de género, embrulhando-a numa desmesura de meios e de produção que o sobrecarrega desnecessariamente.
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Por outras palavras, enquanto o filme é sobre Damon sozinho em Marte a inventar soluções para sobreviver, como uma espécie de MacGyver irrepreensivelmente optimista capaz de cultivar batatas e reaproveitar isótopos radioactivos, ou sobre o modo como a tripulação da sua missão une esforços para tentar salvá-lo, a coisa passa bastante bem. Sempre que Scott vira a câmara para a Terra, e para as tentativas da NASA de montar uma missão de resgate pelo meio de questões orçamentais e políticas, a energia de Damon dispersa-se por um elenco de estrelas convidadas sem nada de especial para fazer e que se limitam a fazer figura de corpo presente. Era preciso um realizador mais ágil, menos “institucional” - enfim: menos “velho”, e isso não tem só a ver com a idade - para fazer justiça à série B que se esconde em Perdido em Marte. Fica um entretenimento eficiente, tecnicamente irrepreensível mas sem alma, que se vê sem fastio mas fica aquém do potencial que tinha.<_o3a_p>