Grupos anti-Dilma aproveitam dia da independência para voltar a exigir demissão

Tensão entre apoiantes e detractores da Presidente depois do desfile militar em Brasília.

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Dilma e Lula da Silva em versão insuflável Ueslei Marcelino/Reuters

De acordo com a imprensa brasileira, em Brasília os manifestantes esperaram (mais ou menos) respeitosamente pelo fim das comemorações oficiais para arrancar com as suas acções de protesto. Mesmo assim, quando Dilma Rousseff desfilou pela Esplanada dos Ministérios, de pé no descapotável Rolls Royce presidencial, foi saudada com vaias e assobios.

No fim do desfile militar, quando a Presidente e restante comitiva governamental já tinham recolhido ao palácio do Planalto, os ânimos exaltaram-se a registaram-se pequenos actos de vandalismo e pequenas escaramuças entre grupos que se manifestavam contra e a favor do Governo. De um lado estavam sindicalistas, partidários da esquerda e membros dos movimento sem-terra que tradicionalmente se fazem ouvir em Brasília no dia da Independência; do outro, aguardavam os colectivos que têm organizado a revolta popular contra Dilma e o seu Governo.

Membros do movimento de Resistência Popular, que protestavam contra a política de “ajuste fiscal” e pelo direito à habitação, tentaram bloquear a circulação com pneus a arder, mas a via foi rapidamente desimpedida por acção dos bombeiros. Entretanto, alguns dos manifestantes anti-Dilma, que estavam concentrados junto à Biblioteca Nacional à espera que avançassem os trios eléctricos, caminharam para a Esplanada dos Ministérios, onde já se tinham posicionado simpatizantes do Partido dos Trabalhadores, com faixas e bandeiras vermelhas: a agência Folha Press relatou “um clima tenso” e “troca de acusações” entre os dois grupos, mas informou que o confronto foi evitado pela polícia.

Os protestos anti-governamentais estenderam-se a outras cidades brasileiras onde decorreram desfiles militares, mas nenhuma das iniciativas teve a mobilização e dimensão das anteriores jornadas nacionais anti-Dilma. Como escrevia o jornal O Tempo, em vários locais os manifestantes aproveitaram para recolher assinaturas para petições contra o Governo federal e os executivos estaduais

Consciente da pressão, a Presidente usou um tom desafiador na tradicional mensagem ao país, garantindo que “nenhuma dificuldade me fará abrir mão da alma e do carácter do meu Governo, que é assegurar, neste país de grande diversidade, oportunidades iguais para a nossa população, sem recuos e sem retrocessos”, declarou.

No entanto, e talvez para evitar um novo “panelaço” (acções de protesto mais ou menos espontâneas que consistem em bater em tachos e panelas para abafar o som da televisão), o discurso do dia da Independência não foi transmitido em horário nobre pela televisão, mas antes divulgado em vídeo na Internet.

“Devemos aproveitar o Sete de Setembro para celebrar a democracia”, começou Dilma, numa frase cheia de segundos sentidos para os comentadores políticos. “A maior conquista alcançada e pela qual devemos zelar permanentemente é a democracia, e a adopção do voto popular como método único de eleger os nossos governantes e representantes”, sublinhou.

Em defesa do seu Governo e das suas políticas, Dilma acabou por fazer uma inesperada contrição, admitindo que algumas das actuais dificuldades e desafios para o país “resultam de um longo período em que o governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o emprego e o rendimento do trabalhador, a continuidade dos investimentos e dos programas sociais”. Mas “agora temos que reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas”, prosseguiu, esclarecendo que “as medidas que estamos adoptando são necessárias para botar a casa em ordem, reduzir a inflação, fortalecer-nos diante do mundo e conduzir o mais breve possível o Brasil à retoma do crescimento”.

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