Morreu a mãe do bebé palestiniano queimado por extremistas judeus

Israel fez detenções após ataque que classificou como "terrorismo", mas não identificou autores do atentado.

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Funeral de Ali, o bebé de 18 meses morto no ataque incendiário THOMAS COEX/AFP

Da família já só resta o pequeno Ahmed, de quatro anos, também  gravemente queimado, pois o pai, Saad Dawabsha, de 32 anos, morreu oito dias depois do ataque à sua casa, sem conseguir recuperar das queimaduras que sofreu em todo o corpo.

A Autoridade Palestiniana decretou três dias de “luto nacional” e ordenou que as bandeiras sejam colocadas a meia-haste.

Os autores do ataque de 31 de Julho nunca foram identificados, mas os escritos deixados nos muros ao lado da casa da família Dawabsha, na aldeia de Douma, mostram que este foi um crime de ódio, cometido por extremistas judeus, provavelmente vindos de colonatos próximos na Cisjordânia ocupada e considerados ilegais à luz do direito internacional

O ataque foi cometido durante a noite, quando toda a família estava a dormir. Segundo relatos de testemunhas, homens mascarados lançaram bombas incendiárias para dentro da casa através das janelas abertas.

O caso de Douma suscitou medo e fúria na Cisjordânia, onde a coabitação entre palestinianos e colonos israelitas continua a ser muito tensa. Os habitantes palestinianos começaram a organizar rondas de vigilância para se protegerem.

O ataque à família Dawabsha serviu para pôr em grande plano as acções violentas dos radicais judeus e a acusação de que as autoridades israelitas estão mais dispostas a reprimir a violência praticada por palestinianos do que a cometida por judeus. Como que a ilustrá-lo, uma adolescente foi apunhalada por um judeu ultra-ortodoxo na noite antes do incêndio de Douma, num desfile homossexual em Jerusalém.

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu qualificou o incêndio como um “acto terrorista” – um termo que costuma ser usado para os actos de palestinianos.

O Governo tomou a medida excepcional de autorizar que a medida de detenção administrativa seja aplicada a extremistas judeus. Desde então, três activistas judeus foram detidos ao abrigo deste regime extrajudicial que permite reter suspeitos sem acusação formalizada por um período ilimitado, e que é normalmente aplicado aos palestinianos. Dez outros suspeitos estão em prisão domiciliária.

Os serviços de segurança relacionaram estas pessoas com organizações ou actos terroristas, alguns dos quais letais. Mas nunca disseram se algum destes detidos é suspeito de estar directamente implicado no ataque incendiário de Douma.

Estes activistas são associados a um movimento radical de contornos bastante vagos que tem como inimigos os palestinianos, mas também os cristãos, os árabes israelitas e até os soldados israelitas. As suas motivações vão desde os sonhos messiânicos de uma grande Israel governado pelas leis da Torah (incluindo as terras palestinianas) até à rejeição da “idolatria” cristã, passando pelo racismo e a defesa dos colonatos.

“Já se passou mais de um mês, e continuamos à espera que o Governo israelita traga os terroristas perante a justiça”, declarou Saeb Erakat, um próximo do presidente palestiniano Mahmoud Abbas. As autoridades de Israel são responsáveis pela “cultura de impunidade” que permite estes actos aconteçam, afirma, e que se propague o ódio que favorece o alargamento dos colonatos.

Os israelitas devem entregar o corpo de Riham Dawabsha aos palestinianos num checkpoint à entrada da Cisjordânia. O corpo deve ser autopsiado, dizem fontes dos serviços de segurança palestinianos, e enterrado ainda esta segunda-feira em Douma. Milhares de palestinianos participaram nos funerais do seu filho e do seu marido.

Quanto ao único sobrevivente, Ahmed, de quatro anos, embora o seu estado seja grave, “melhorou ligeiramente”, disse um porta-voz do Hospital Sheba de Telavive. “Mas tem ainda de fazer várias cirurgias, uma delas na semana que vem. Só depois se poderá dizer com certeza que não está em perigo”. Ainda deverá passar muitos meses internado. 

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