Adaptando muito livremente um romance dos irmãos Strugatsky, mestres da ficção-científica russa, German propõe não tanto uma narrativa tradicional como um mergulho imersivo e sensorial numa sociedade alienígena. Alienígena, esclareça-se, mas não nos termos tradicionais da ficção-científica: embora tudo se passe num planeta extraterrestre, a civilização que ali se encontra mantém-se numa “idade das trevas” medieval, boçal, feia, suja, sem arte nem beleza.
Tudo em É Difícil Ser Um Deus, rodado em longuíssimos planos-sequência de esmagador virtuosismo, remete para uma tradição monumental do cinema russo — não seria descabido pensar no filme como um Sokurov descontrolado entre o tour-de-force técnico da Arca Russa e a indigestão alegórica do Fausto —, mas talvez estejamos mais próximos da ideia de uma instalação niilista, um Gesamtkunstwerk onde o espectador vagueia em busca de uma redenção que talvez nunca chegue. É um filme-limite, experiência de endurance, maratona de três horas da qual se sai tão à toa como se entrou.