Uma cidade rendida à Frente Nacional
A França vai hoje a eleições departamentais. A Revista 2 foi conhecer a cidade onde a FN teve mais votos nas últimas municipais.
É uma tarde de pouco movimento na marginal que liga Fréjus a St. Raphael, em plena Côte d’Azur. Estamos ainda longe da época alta de Verão em que as esplanadas se enchem de turistas, as lojas têm filas e as praias se tornam pequenas. Apenas alguns idosos se passeiam, grupos de miúdos de skate e patins e pouco mais. Nos cafés de frente para o Mediterrâneo, os empregados vestidos a rigor parecem passar os dias em pé, a aguardar um raro cliente.
Não é preciso caminhar muito tempo até se chegar ao bairro da Gabelle, onde o cenário é profundamente diferente. Das pequenas moradias familiares, com jardim à frente e garagem de lado, passamos a um conjunto de prédios bege, laranja e amarelos. Lado a lado, grupos de homens com túnicas muçulmanas seguem o chamamento do muezzin para a oração das quatro da tarde. Mas, na verdade, é uma grua que permite encontrar a futura mesquita de Fréjus. Um taipal esconde os trabalhos, mas é possível ver o edifício que está já na fase final de construção.
Será necessário esperar apenas mais quatro ou cinco meses, dizem-nos, até esta cidade de 52 mil habitantes poder ter a sua mesquita, com capacidade para mais de mil fiéis. Mas até que esse dia chegue, a comunidade muçulmana local não precisa de ir muito longe para fazer as suas preces. Ali mesmo, ao lado das obras, um descampado de terra batida coberto de tapetes serve perfeitamente. Quase cem homens obedecem maquinalmente à oração feita pelo imã, levantando-se e ajoelhando-se. Perto do posto onde se situa o imã, estão betoneiras, pás e montes de pedra branca.
A futura mesquita está sob fogo pela autarquia de Fréjus, a maior cidade conquistada há um ano pela Frente Nacional. O novo presidente, David Rachline, prometeu durante a campanha convocar um referendo sobre o futuro do edifício e, desde que assumiu o cargo, tem movimentado os meios legais à sua disposição para tentar suspender as obras. Foram interpostos dois pedidos para embargar a obra, um dos quais já foi rejeitado pelo tribunal.
Não é de política que querem falar os habitantes da Gabelle. “Cumprimos as leis todas, vamos construir a mesquita”, ouvimos do presidente da Associação Muçulmana El Fath. E mais não diz. Está farto de jornalistas, dizem-nos, e com a mesquita cada vez mais perto de se concretizar, o silêncio torna-se de ouro. A prioridade é a construção e isso vê-se no terreno. São poucos os habitantes que passam e não param para ver como correm as obras ou para trocar algumas palavras com os pedreiros, que também ali moram.
“Só a cúpula custou 120 mil euros”, diz-nos sem esconder o orgulho Elyahiaoui, um ancião da comunidade que conhece todos os cantos da Gabelle. Segundo os seus cálculos, o bairro tem 120 apartamentos de seis pessoas, dos quais “98% são muçulmanos”. A maioria dos seus 68 anos foi passada entre estes prédios, onde já viu de tudo. “A Gabelle era conhecida em toda a França! Eram os roubos, a droga, o desemprego, os homicídios…” Fala-nos dos tempos antes do processo de requalificação urbana lançado nas últimas duas décadas quando a insegurança ensombrava este e outros subúrbios de França.
Quem anda hoje pelas ruas que contornam os prédios da Gabelle — que nem sequer têm graffiti nas paredes — dificilmente reconhece a descrição de Elyahiaoui. Por trás da mudança estão anos de trabalho social de integração dos jovens, no qual ele próprio participou e diz continuar em conjunto com os centros sociais. “Insistimos com os jovens, trabalhámos, trabalhámos, trabalhámos e hoje está tudo melhor.” O imã e os líderes da comunidade não dissertam apenas sobre o Corão, ensinam aquilo que é a vida em sociedade e como devem respeitar os outros, explica-nos Elyahiaoui para voltar ao mesmo: “A mesquita seria óptima.” A cidade sagrada de Meca fica na direcção das traseiras da mesquita e a geografia obriga-os a rezarem de costas para a sua futura casa, mas o sentimento é o de que falta pouco para deixarem aquele descampado.
A alternativa, avisa Elyahiaoui, é a regressão social da Gabelle, com raiz na frustração da comunidade, sobretudo dos mais jovens. É que para além do risco sobre a mesquita, também os centros de apoio social estão na mira da autarquia. O centro Les Bosquets serve o bairro e viu os apoios da câmara no último ano serem cortados em cerca de 65%. Com menos meios, o centro teve de repensar a sua actividade e os responsáveis temem pelo futuro dos que são deixados de lado.
“Tentamos concentrar-nos sobretudo nas crianças, tendo a escolaridade como base”, explica o vice-presidente do centro, Jean-Marc Tullot. Mas, para isso, “há uma categoria de jovens que são abandonados”, completa a presidente Nassima Barkallah. Sem a rede de apoio que era garantida pelo centro, é entre eles que a revolta pode surgir e que o experiente Elyahiaoui explica energicamente. “Se não tiverem trabalho… [faz o gesto de fumar] é catastrófico. Será como dantes, quando tínhamos seringas, droga, muitos jovens eram mortos… Agora começam a ficar agressivos, [dizem] ‘ninguém quer fazer nada por nós’.”
No seu gabinete com vista para a Praça Formigé, o jovem autarca de 27 anos explica-nos que os cortes estão inseridos no processo de desendividamento de Fréjus — que com 144 milhões de dívida era a quinta cidade mais endividada do país. A “recuperação financeira” foi realizada “de forma agressiva”, admite David Rachline, mas não havia outra opção. “Esta era a ambição maior para a cidade porque era necessário recuperar a sua credibilidade financeira e bancária”, mas “a partir deste ano é para reinvestir”, garante.
A dívida excessiva de Fréjus foi um dos grandes motivos que levaram muitos eleitores a escolher a lista da Frente Nacional há um ano. Nas ruas, tanto eleitores à esquerda como à direita referem o endividamento que quase paralisou a cidade e é fácil adivinhar como o tema terá dominado o debate da campanha. À má gestão do anterior executivo local da UMP (centro-direita), associou-se o escândalo que envolveu o ex-presidente da câmara Elie Brun, acusado de ter recebido um suborno para a atribuição de uma praia privada. Aos eleitores apresentava-se uma escolha entre uma esquerda associada ao Presidente mais impopular da Quinta República, o socialista François Hollande, e com pouca implantação local e uma direita dividida, vista como corrupta e má gestora — a corporização perfeita do rótulo pejorativo que Marine Le Pen gosta de associar aos dois partidos dominantes, a UMP e o Partido Socialista, chamando-lhes “UMPS”. Com a promessa de mudança e de uma nova forma de governar, a Frente Nacional impôs-se sem problemas na segunda volta das municipais de Fréjus, a 30 de Março de 2014, a sua maior conquista naquelas eleições.
E é esse guião que tem sido seguido por David Rachline, um apparatchik que milita desde os 15 anos na Frente Nacional, e que representa uma nova face do partido que se quer descolar do rótulo extremista. Com Marine Le Pen, o partido suavizou o discurso e tenta abandonar a caricatura com que era apresentado pelos media, sobretudo por causa da sua política anti-imigração — um partido de xenófobos, racistas e anti-semitas. Agora, a ênfase é posta em questões como o proteccionismo económico contra a mundialização capitalista, a defesa da soberania nacional face ao poder do “monstro burocrático” de Bruxelas. Este processo de dédiabolisation (desdiabolização) passa, por exemplo, por evitar a caracterização da Frente Nacional na imprensa como partido de extrema-direita. Com a vitória em 11 câmaras municipais, o partido recebeu a oportunidade de demonstrar no terreno que sabe passar do protesto à governação e Fréjus tem sido apontado como um dos melhores exemplos.
Ao longo da conversa com a Revista 2, David Rachline adopta uma atitude de profissionalismo. Apresentando-se como um “gestor eficaz”, nega qualquer governação “ideológica”, servindo-se de frases como “quando se fala de uma escola não se trata de esquerda ou de direita, é apenas o que é necessário fazer”. Foi essa capacidade de bem gerir — que considera ser a grande diferença entre as câmaras nacionalistas e as do “UMPS” — que possibilitou um desendividamento de nove milhões de euros. Os centros sociais, diz, “foram apenas um elemento” abrangido pelas poupanças, que acabaram por ser empolados devido a uma “obsessão” da esquerda. “Os centros sociais são a mão financeira da esquerda e da extrema-esquerda”, critica.
“É a morte anunciada dos centros sociais”, adverte Isabelle Le Buzulier, a presidente da secção local da Liga dos Direitos do Homem, durante uma conversa numa cervejaria na marginal em St. Raphael. Lá fora, a chuva é forte, mas os murros na mesa desta professora de liceu cobrem o barulho da bátega. “Ele está prestes a matar os centros sociais, ele está a cortar os subsídios sabendo muito bem que os centros sociais não vão poder continuar a viver com tão pouco dinheiro”, insiste.
Ao lado de Isabelle está Alain Fortuit, que com ela fundou o Observatório para a Democracia Local para denunciar os abusos da câmara. Está mais calmo, mas o seu rosto transparece apreensão, não tanto pelo que já aconteceu mas pelo que aí vem. É certo que Rachline tem apresentado uma atitude moderada e tem insistido numa governação desinvestida de ideologia, mas há uma reacção em cadeia que estes activistas temem. “Ele prefere que as perturbações surjam nos próprios bairros por si próprias, assim que o tecido social se destrua completamente. Acaba-se com os centros sociais e, assim, com um factor de integração social, cultural, etc. que é muito importante. Sem esta solidariedade republicana, é a religião que toma o seu lugar e, então, iremos ver florir integristas no seio [da comunidade] muçulmana e mais tensões entre a comunidade de Fréjus. É isso que ele aguarda”, explica Alain. E lembra um outro dado preocupante: “O único orçamento que ele aumentou foi o da polícia municipal.”
A própria revista promocional da autarquia reflecte as prioridades de Rachline. Para além do destaque dado às políticas orçamentais, o reforço securitário também merece menção. A uma entrevista com o novo director da polícia municipal segue-se a enumeração das medidas: uma “brigada nocturna” de presença permanente; uma “brigada ambiente” diária que “assegura a limpeza dos bairros e dos mercados”; uma “brigada móvel de patrulha civil” que “apoia os diferentes postos de policiamento de bairro” diariamente, e ainda a criação de uma “brigada equestre”, que “assegura a vigilância das praias e do litoral durante o período estival”.
Mas se há centros sociais em risco de fechar portas, há um caso que é diferente. O Centro Social de Villeneuve foi encerrado depois da demissão da sua directora, afastada pela Câmara Municipal. Rachline acusa o centro de se “servir do dinheiro dos contribuintes para fazer política”, algo que “não é aceitável”. “Quando se quer fazer um partido político, apresenta-se em eleições, obtém-se um financiamento público, mas não se usam os centros sociais para fazer política”, explica. No caso foi a participação do centro numa manifestação organizada pelo Fórum Republicano, que o autarca classifica como uma “organização de extrema-esquerda”. Agora, em Villeneuve, há uma nova estrutura dependente da câmara, “mas o presidente não vai todos os dias ao centro social para saber o que fazem”, acrescenta Rachline. O novo centro tem “globalmente” os mesmos serviços que o anterior, mas os seus críticos vêem apenas “um centro de lazer” que falha a missão social.
Na “organização de extrema-esquerda” denunciada por David Rachline, está uma portuguesa de nascimento. Maria José Azevedo nasceu em Guimarães, mas foi para França com os pais quase de imediato e vive em Fréjus há 23 anos. O desfecho das eleições municipais deixou Marie-Jo, diminutivo que adoptou, “chocada” e decidiu agir. A ideia de criar um “comité de vigilância” começou a ganhar forma entre as duas voltas das eleições municipais, quando já se antecipava a possibilidade de Fréjus ser ganha pela Frente Nacional. Maria José, que se descreve como “profundamente humana e republicana”, juntou-se a Elsa Di Meo, a candidata socialista derrotada, para fundar o Fórum Republicano — um organismo que foi criado em oito das 11 cidades nacionalistas.
Entre os activistas que hoje tentam denunciar as políticas de David Rachline, não deverá haver quem conheça o jovem presidente há mais tempo do que Marie-Jo. Foi em 1994 que esta professora primária recebeu na sua turma do 1.º ano o jovem David. “Foi uma portuguesa que o ensinou a ler”, diz-nos, sublinhando a ironia. As primeiras recordações são de “um aluno muito dono do seu nariz, auto-suficiente e que não se preocupava com os outros”. Quem hoje o conhece, diz que Rachline não deixa transparecer a verdadeira idade, seja pela atitude de grande maturidade, seja pelo aspecto físico, mas já em criança a sua antiga professora diz que ele “fazia ares de velho” e “não era muito alegre”.
O trabalho do Fórum passa por um contra-ataque constante às medidas camarárias. “A primeira decisão do presidente da câmara foi retirar a bandeira da União Europeia [do edifício da câmara] e nós a 9 de Maio fizemos uma festa da Europa”, explica Maria José. Outra das acções foi a revelação da empresa que realizou a auditoria às contas municipais pedida por Rachline. A investigação do Fórum acabou por concluir que se tratou de uma sociedade formada dois dias antes das eleições por um amigo do novo autarca que não tinha qualquer experiência na área. “Quando se passa alguma coisa na cidade, fazemos logo um comunicado”, conta a luso-francesa de 45 anos.
O esforço de combater a progressão da popularidade da Frente Nacional em Fréjus é uma actividade que pode, porém, tornar-se frustrante. “Os especialistas [em comportamento eleitoral que participaram em colóquios logo após as eleições] dizem que é necessário falar com as pessoas que votam na Frente Nacional, mas é muito difícil, são muito agressivos, acham que têm razão.”
Maria José vê hoje uma cidade dividida. Quando fala com a Revista 2, usa um tom de voz mais baixo quando pronuncia certos nomes e aponta-nos uma pessoa que votou na Frente Nacional e que, desde as eleições, praticamente deixou de falar com ela. Para o futuro prevê uma cidade ainda mais polarizada: “Frente Nacional e os outros.” E teme que o partido comece a estender o seu poder às organizações que restarem. “Quando as pessoas recebem muitas [faz gesto de bofetada] deixam os seus postos, demitem-se, e eles vão pôr alguém da Frente Nacional”, conta-nos, dando o exemplo da AMSLF, um grupo desportivo local.
Se há mudanças em Fréjus, estas não são sentidas de forma acentuada nas ruas da cidade costeira. Poucos ouviram falar da construção da mesquita e quase nenhuns sabem dos cortes dos subsídios dos centros sociais. Por outro lado, o desendividamento da autarquia é saudado, assim como o aumento de policiamento. Michel Lagnel está sentado a uma mesa ao fundo de uma das muitas galerias de arte da cidade. Quando se apercebe do tema das perguntas, sai de imediato para ir buscar um grande dossier onde guarda dezenas de cartas que vai escrevendo à câmara e a outras entidades sobre assuntos que o preocupam. Do novo executivo, este octogenário que vive desde 1968 em Fréjus e votou na lista da Frente Nacional, só tem coisas positivas a dizer. “Fiquei admirado com a rapidez com que me responderam quando questionei sobre um perigo na via pública”, conta, dizendo que tudo foi arranjado “três dias depois”.
Quase da mesma idade, Michel tem 77 anos e passeia o cão na marginal, perto do monumento em memória dos soldados negros que lutaram pelo exército francês. Diz-se um “socialista iludido” e acredita que os seus conterrâneos “não votaram pela Frente Nacional, mas contra os outros”. Quando muito se fala no desencontro de gerações, este professor reformado vê a Frente Nacional a reunir os extremos etários: “As pessoas da minha idade votam na Frente Nacional por causa da insegurança; os mais novos porque querem algo novo.”
É perto do edifício da câmara que encontramos Bernard, que nos diz ter votado na Frente Nacional nas municipais. Este vendedor de carros admite que há uma “visão extremista” no partido, mas o estado a que tinha chegado a cidade falou mais alto: “A mudança é mais importante do que o programa.” No entanto, Bernard, que diz ter sempre votado no PS, ainda não viu muitas mudanças, excepto a contenção orçamental e a organização de festas de Natal. Céleste apenas não votou na Frente Nacional por julgar que “às vezes têm declarações demasiado xenófobas”. Mas nem por isso se virou para os partidos tradicionais da esquerda ou da direita, preferindo abster-se. “Prometem todos, mas depois é tudo igual”, diz esta secretária de escritório.
O cenário é confirmado por uma sondagem publicada na semana passada que revela que 74% dos inquiridos nas cidades governadas pela Frente Nacional estão satisfeitos com o trabalho da sua câmara, contra os 66% que o afirmam nas restantes cidades. Por outro lado, são os factores alheios ao partido que o levaram ao sucesso nas eleições de há um ano, com o balanço do último executivo, o castigo ao Presidente, François Hollande, e a situação económica da cidade como os principais factores. Em Fréjus, esta combinação permitiu uma tempestade perfeita para catapultar a Frente Nacional para o poder.
Estes números aparecem numa altura em que os franceses se preparam para ir às urnas uma vez mais, agora para escolher entre 22 e 29 deste mês os conselheiros departamentais.Estes vão representar os vários cantões (equivalentes aos municípios) e terão assento nos conselhos departamentais. As sondagens a nível nacional colocam a Frente Nacional na liderança, seguida de perto pela UMP. Com apenas um conselheiro eleito, a simples eleição de outro seria já por si uma vitória, mas a própria conquista de um departamento — uma divisão territorial intermédia, com competências em diversas áreas como a saúde, a educação ou a habitação — pode tornar-se uma realidade. E Fréjus pode dar uma ajuda.
O Var tem sido um departamento pródigo em boas notícias para Marine Le Pen: para além de Fréjus, há mais duas cidades com câmaras da Frente Nacional, Cogolin e Luc, e, em Setembro, Rachline tornou-se o mais novo senador da Quinta República. O partido foi também o mais votado na região nas eleições europeias de Maio, com quase 35%.
Marine Le Pen sabe bem da importância deste departamento na caminhada até às presidenciais de 2017 — o objectivo último do partido. Por isso mesmo escolheu o Sul para uma série de visitas na última semana de campanha, começando pela estância balnear de Six-Fours-Les-Plages, a cem quilómetros de Fréjus. O auditório do Espaço Cultural André Malraux encheu-se para ouvir a presidente do “primeiro partido de França” zurzir contra o “UMPS” e a “casta mediática”, enquanto anunciava que “o sol brilha nas cidades da Frente Nacional”.
A plateia é composta sobretudo por idosos, com excepção de uma dúzia de membros da FNJ, a organização juvenil do partido. No fim do discurso, Betty, votante nacionalista há três décadas, lamenta que muitas das pessoas que ali estão tenham vindo apenas por curiosidade. O que Betty mais deseja é que a Frente Nacional consiga vencer no Var. Em Toulon, onde vive, “há muitos imigrantes clandestinos e muito tráfico de drogas e armas” e só a “Frente Nacional pode mudar isso”. Caso governe o departamento, “a polícia será mais livre” para actuar, explica-nos a militante de 65 anos.
A possibilidade de uma vitória da Frente Nacional no Var é “certa”, diz Maria José, que prevê que as divisões da direita vão beneficiar o partido nacionalista mais uma vez. “Para a Frente Nacional, é tão fácil, não têm nada que fazer, podem ficar em casa.” Um receio partilhado pelos outros activistas que falaram à Revista 2, que dizem haver “uma passerelle [de eleitores] entre a direita tradicional e a Frente Nacional”, como descreveu Alain Fortuit, da Liga dos Direitos do Homem.
Na pequena sede local do partido em Fréjus, na mesma praça onde se situa a câmara municipal, há um ambiente de quase euforia. O azul da candidatura — Esperance Bleu Marine — enche as paredes e nas mesas chapéus de papel com as cores da bandeira francesa convidam quem entra a tirar um rebuçado. Enzo — “nome italiano, vêem como aqui não somos xenófobos!” — recebe-nos com um sorriso estampado, enquanto elogia Setúbal e promete conhecer em breve Lisboa. Militante desde 1988, vai apontando para os recortes de jornais que relembram a vitória de há um ano e olha para os últimos dias. “Nas reuniões tem aparecido muita gente. Numa cidade como Fréjus, temos 300 ou 400 pessoas numa reunião e ao lado uma de outro partido tem 50… Dá para sentir o odor do que pode acontecer”, diz-nos, com um novo sorriso.