Presidente do Iémen apela aos huthis para que saiam da capital depois de fugir

Abdu Mansour Hadi volta atrás na demissão, depois de ter escapado para Aden, a cidade de onde é natural.

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Hadi tinha apresentado a demissão recentemente Natalia Kolesnikova / AFP

O ex-Presidente partiu para Aden, a cidade do Sul do país de onde é natural, e ao fim do dia a televisão pan-árabe Al-Jazeera transmitiu uma declaração sua, feita sob o título de Presidente - o que sugere que voltou atrás no pedido de demissão que apresentou quando os huthis invadiram a sua casa, e que nunca chegou a ser formalmente aceite pelo Parlamento. E descreveu a chegada ao poder dos huthis como um golpe.

“Isto vai ser um grande revés para os huthis”, explicou o correspondente da Al-Jazeera, Hashem Ahelberra.

A fuga de Hadi surge um dia depois de ter sido alcançado um acordo entre as várias facções rivais para a criação de um conselho de transição – considerado “um grande progresso” pelo mediador da ONU, Jamal Benomar. Este órgão iria permitir uma representação de vários sectores da sociedade iemenita, incluindo o antigo Sul independente, mulheres e jovens, explicava o site do canal Al-Arabyia.

As conversações podem, no entanto, ter ficado em risco com a fuga de Hadi, revelaram à Al-Jazeera algumas fontes oficiais.

A instabilidade agudizou-se no mês passado com os avanços do grupo na capital e com a demissão de Hadi. Vários países decidiram encerrar as suas embaixadas. É no Iémen que está baseada a mais importante célula em actividade da Al-Qaeda.

Desde Setembro que os huthis  – um grupo zaidita (facção do xiismo), proveniente do Norte do Iémen e apoiado pelo Irão – se instalaram em Sanaa e nas primeiras semanas deste ano conseguiram tomar vários postos militares e edifícios governamentais. Cada vez mais pressionado pelos avanços dos huthis, Hadi apresentou a demissão no final de Janeiro, em conjunto com o Governo, criando um vazio no poder prontamente aproveitado pelo grupo rebelde.

As lutas sectárias pelo poder entre xiitas e sunitas – este último o ramo do Islão maioritário no país – podem fazer o Iémen regressar à guerra civil. Neste contexto, a grande beneficiada seria a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), através do apoio que poderia prestar a grupos e tribos sunitas.

A comunidade internacional tem mostrado preocupação com a situação no Iémen, considerada “uma ameaça para a paz e a segurança regional e internacional” pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Repressão violenta
Preocupante tem sido também a forte repressão que os huthis têm aplicado para conter os protestos contra o seu domínio. Na manhã deste sábado, uma pessoa foi morta por membros dos huthis durante uma manifestação em Ibb, no centro do país. O incidente levou milhares de pessoas às ruas para condenar a violência do grupo.

Activistas e manifestantes têm sido detidos e torturados nas últimas semanas, alerta um relatório publicado no início da semana pela Amnistia Internacional (AI). “Os huthis passaram para um novo nível perigoso de intimidação e violência para impor medo em todos os que protestam contra o seu poder”, afirmou Donatella Rovera, uma especialista da AI, actualmente no Iémen.

“Eles vendaram-me os olhos e amordaçaram-me, amarraram as minhas mãos e pés, prenderam-me de cara para baixo a um banco estreito e bateram-me nas nádegas e nas costas com um bastão ou uma barra de ferro até eu desmaiar. Disseram ‘vais falar ou temos que te fazer falar?’.” A descrição é de Fouad al-Hamdani, um activista de 34 anos que esteve detido durante 13 dias em quatro locais diferentes.

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