Tomada do palácio confirma fragilidade do Presidente do Iémen
Depois da entrada da milícia xiita em Sanaa, em Setembro, Mansur Hadi manteve poder formal. Mas a sua fraqueza foi confirmada pelos acontecimentos dos últimos dias.
A situação era terça-feira à noite confusa na capital, Sanaa, onde ocorrem combates pelo segundo dia consecutivo. Mantinha-se também o cerco à casa do primeiro-ministro, Khaled Bahah, iniciado na noite de segunda, depois de um breve cessar-fogo que se seguiu a horas de violentos confrontos.
Um responsável militar iemenita confirmou à AFP a tomada do complexo presidencial pela milícia e acusou-a de “pilhar armas dos paióis”. O movimento xiita apresentou a ocupação como uma forma de protecção. “O que os comités populares fizeram foi parar o contrabando de armas. Não tomaram o presidencial, estão a protegê-lo de ladrões”, escreveu, num site da organização, um dos seus dirigentes, Ali al-Quhoom, citado pela Reuters.
O ataque à casa do Presidente foi denunciado pela ministra da Informação, Nadia al-Sakkaf, na sua conta na rede social Twitter. Mohammed al-Bukhaiti, dirigente do movimento xiita, disse mais tarde à Reuters que o “Ansarullah não tem a intenção de atingir o Presidente Hadi ou a sua casa”. E um representante do Governo afirmou à agência que “o Presidente está em casa e está bem”.
Na segunda-feira, horas antes do cerco à casa do primeiro-ministro, a sua caravana automóvel tinha sido alvejada, após uma reunião com altos representantes do Ansaruallah.
O regresso dos combates à capital do Iémen, os mais graves nos últimos quatro meses, está a ser associado à rejeição pelo movimento xiita do projecto de Constituição que prevê a organização do país em seis regiões e que os privaria de acesso ao mar. Os mais recentes desenvolvimentos confirmaram a fraqueza do Presidente sunita Hadi e do seu Governo, acusados de corrupção pelo movimento xiita.
A cidade foi ocupada em grande parte pelos xiitas em Setembro. Hadi manteve o poder formal mas foi obrigar a coexistir com o Ansaruallah e a aceitar as regras por ele impostas. Os xiitas iemenitas, também conhecido como huthis, concordaram inicialmente em retirar os seus combatentes, após a formação de um Governo, mas, mais tarde, mudaram de ideias, argumentando que a sua partida aumentaria a instabilidade.
Eleito em 2012, Hadi é um aliado dos Estados Unidas na luta contra a Al-Qaeda na Península Arábica, organização que mobiliza sunitas e tem uma forte presença no Sul e sudeste.
O Ansaruallah nasceu do protesto contra a marginação dos xiitas zaiditas e o proselitismo sunita. As guerras com o Exército, que se prolongaram de 2004 a 2010, causaram milhares de mortos. Fundado por Hussein al-Huthi, morto em combate, o movimento é actualmente dirigido pelo irmão, Abdel Malek al-Huthi, e alargou a sua área de influência, que antes se limitava ao Norte.
Trata-se de uma organização inspirada no Hezbollah libanês e apoiada pelo Irão. Nos combates dos últimos dias os seus milicianos parecem ter – segundo a AFP – o apoio de forças que permanecem leais ao antigo Presidente Ali Abdallah Saleh, que partiu em Fevereiro de 2012, após 33 anos de poder, depois de meses de protestos violentos.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban ki-moon, declarou-se “seriamente preocupado” e apelou ao fim imediato dos combates. O Conselho de Segurança, reunido a pedido do Reino Unido, para uma reunião à porta fechada, condenou os ataques contra o palácio presidencial e a casa do chefe de Estado. Numa declaração aprovada por unanimidade, e citada pela AFP, afirma que é ele a “autoridade legítima” e que “todas as partes e todos os actores políticos do Iémen devem apoiar o Presidente Hadi”, o seu primeiro-ministro e o seu Governo para que o país tenha um “caminho de estabilidade e de segurança”.