Uma em cada dez raparigas do mundo sofre abusos sexuais, denuncia a ONU

Relatório "Escondido à nossa vista" denuncia a violência sobre as crianças e os adolescentes em todo o mundo.

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Um rapariga mutilada com ácido pelo pai no Bangladesh; em alguns países a punição física é tolerada socialmente AFP

A violência "é transversal a todas as idades, a todas as geografias, religiões, etnias e rendimentos", disse o director da UNICEF (a agência da ONU para a infância), Anthony Lake, comentando este relatório que compila dados, e apresenta testemunhos, recolhidos em 190 países. Chama-se "Escondido à nossa vista — análise estatística da violência contra as crianças" e analisa todos os temas considerados violência física e psicológica, desde os maus tratos em casa aos castigos corporais, dos abusos sexuais à exposição das crianças às armas.

Só em 2012, mostra o relatório, 95 mil crianças e adolescentes forma vítimas de homicídio. A América Latina e as Caraíbas são as zonas do globo onde estas mortes mais acontecem (25,400), seguindo-se a África Central e Ocidental (23,400), e a África Oriental e do Sul (15 mil). A nível de países, El Salvador, Guatemala, Bolívia e Venezuela têm as mais altas taxas de mortalidade infanto-juvenil devido a homicídio. No campo juvenil, o homicídio é a principal causa de morte na Nigéria (13 mil mortes em 2012) e o Brasil (11 mil).

O capítulo dedicado à violência sexual diz que 120 milhões de raparigas (um pouco mais de uma em cada dez) foram obrigadas a ter relações sexuais ou violadas antes de fazerem 20 anos.

"Mas as raparigas que vivem em determinadas regiões estão mais em risco do que outras", diz o documento — dez por cento das raparigas de 13 dos 18 países sub-sarianos foram forçadas a ter sexo. Os abusadores são, sobretudo, os maridos, os companheiros ou os namorados. Uma percentagem significativa das raparigas da Bolívia, República Dominicana, Guatemala, Quénia, Uganda, Tanzânia e Moldava disseram ter sido vítimas de uma pessoa conhecida.

O relatório sublinha que também os rapazes são vítimas de abusos sexuais, mas em menor escala do que as raparigas mas, como acontece com as raparigas, os incidentes ocorreram entre os 15 e os 19 anos.

Um em cada três estudantes entre os 13 e os 15 anos sofreram algum tipo de bullying na escola. Seis em cada dez com idades entre os dois e os 14 anos são punidos psicologicamente por quem toma conta deles. "[A violência] ocorre quando as crianças deviam estar seguras, nas suas casas, nas escolas, na comunidade. Estão a aumentar os casos de violência na Internet, mas também os casos em que a violência é perpetrada pela família, pelos professores, vizinhos e estranhos e por outras crianças". diz o relatório.

O documento sublinha que em alguns países a violência contra as crianças é socialmente aceite ou tacitamente ignorada, o que leva as vítimas a não denunciarem os abusos. "Os dados deste relatório mostram claramente que muitas crianças não recebem a devida protecção", concluiu o documento.

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