Maratonista espanhola perde medalha por ajudar guia em dificuldades: “Desqualificaram-me por ser humana”

Elena Congost soltou a corda que a ligava ao guia enquanto este caía com cãibras. O bronze que conquistou acabou por ser entregue à atleta que chegou à meta mais de três minutos depois dela.

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Elena Congost, de Espanha, e o guia Mia Carol Bruguera festejam depois de terminarem em terceiro lugar, antes de a medalha de bronze lhes ser retirada Jennifer Lorenzini / REUTERS
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A maratonista espanhola Elena Congost perdeu a medalha de bronze conquistada nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024 por se ter desprendido do guia para o ajudar enquanto este desfalecia a poucos metros da meta. O terceiro lugar acabou por ser cedido à japonesa Misato Michishita, que chegou à meta de mais de três minutos e meio depois da catalã que representava Espanha na maratona.

"Estou arrasada, sinceramente, porque ganhei a medalha", desabafou a atleta, que foi também a campeã paralímpica na mesma categoria nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016: "Estou super orgulhosa de tudo o que fiz e, no final, desclassificaram-me porque a 10 metros da linha de chegada soltei a corda, por um segundo, porque uma pessoa ao meu lado caía de bruços. Agarrei a corda novamente para cruzarmos a linha de meta", lamentou.

"Gostaria que todos soubessem que não me desqualificaram por fazer batota, mas sim por ser humana e, por um instinto que surge quando alguém está a cair, que é ajudar ou apoiar", lamentou, em choro, depois de explicar que o guia estava a em evidentes dificuldades e caía devido a cãibras.

A marroquina Fatima el Idrissi levou o ouro com um novo recorde mundial na categoria T12: duas horas, 48 minutos e 36 segundos, batendo a compatriota Meryem En-Nourhi, prata, por nove minutos e 42 segundos e Elena por 12 minutos e 12 segundos. O bronze retirado à espanhola acabou por ser entregue à Misato Michishita, que chegou à meta 15 minutos e 47 segundos depois da campeã.

"A atleta seguinte chegou a três minutos de mim... foi um acto reflexo de qualquer ser humano segurar uma pessoa que está a cair ao nosso lado. Não tive qualquer tipo de ajuda ou benefício, percebe-se claramente que paro por causa dessa situação. Mas apenas me dizem que larguei a corda por um segundo...", justificou-se, impotente.

Após ter sido campeã paralímpica no Rio 2016, Elena Congost deixou a alta competição para ser mãe, sendo que no período de seis anos teve quatro filhos — Arlet, de seis anos; Abril, de quatro; Ona, de três anos; e Lluc, com um. Após dar à luz pela quarta vez, foi motivada pelo marido a voltar à competição e tentar regressar aos Jogos Paralímpicos, algo que conseguiu com alguma facilidade, uma vez que nunca parou de treinar.

Elena Congost, de 36 anos, é professora em Barcelona, tendo sido condecorada em 2013 com a medalha da Real Ordem ao Mérito Desportivo. Agora, além de perder a medalha, fica igualmente sem direito à bolsa paralímpica que a ajudaria a manter-se no desporto. "Não consigo encontrar nenhuma explicação para isto. Parece tudo tão injusto e surreal...", concluiu.