Chineses fazem renascer o sonho de Sines
No entanto, aqueles grandes cartazes continuam há vários anos no plano das promessas. Sines continua a ter algumas fragilidades no que respeita aos acessos ferroviários e rodoviários à Europa e debate-se com vários concorrentes de peso na vizinha Espanha, como Valência, Barcelona e Algeciras. Uma das ambições é aliás transformar-se num grande porto de alimentação e escoamento de mercadorias da região de Madrid (a grande plataforma logística da Península Ibérica). Singapura e agora a China olham-no ainda assim como uma possibilidade para colocarem as suas exportações nas portas da Europa.
O plano estratégico desenhado pela administração portuária até 2015 traça o desenvolvimento do porto como grande plataforma de carga e descarga de contentores e de transhipment para navios mais pequenos. A movimentação de contentores tem tido um forte ritmo de crescimento nos últimos anos, embora Sines esteja ainda em terceiro lugar entre os portos nacionais, a seguir a Lisboa e ao porto de Douro e Leixões.
O chamado terminal XXI começou a ser construído há cerca de 10 anos e é explorado desde 2004 pelas autoridades portuárias de Singapura, numa concessão que tem um período de 30 anos renovável por outros 30. É ali, protegidos por um molhe do mar aberto, que chegam duas vezes por semana gigantescos navios porta-contentores que ligam a Europa ao Extremo Oriente através do chamado Lion Service.
A capacidade actual é para 400 mil TEU (unidade de medida que equivale a um contentor de 20 pés), limite que a administração espera alcançar este ano. Mas não será por isso que a capacidade fica esgotada - o cais do terminal de contentores concessionado à PSA está em obras de ampliação para receber até 1,4 milhões de TEU e já no próximo ano deve expandir a capacidade para receber dois navios de contentores ao mesmo tempo.
Mas a APS pretende também aproveitar a área que tem sob jurisdição, contígua ao terminal XXI e ainda por construir, que sai fora da concessão da PSA. Entre o cais explorado pelas autoridades de Singapura e a central termoeléctrica de São Torpes, onde terminam os terrenos do porto, há espaço ainda para receber mais um ou dois terminais de contentores.
Esse projecto teria de passar por novos parceiros e pelo lançamento de concursos públicos, indicou ao PÚBLICO a presidente da administração do porto de Sines (APS), Lídia Sequeira. O interesse das autoridades chinesas pode passar por aí, tendo em vista que o alargamento do canal do Panamá, a concluir em 2014, aproximará mais a China da Europa. O porto necessita por outro lado de diversificar os armadores que serve, uma área em que os chineses têm também já uma presença importante.
Outra área de desenvolvimento potencial é a zona logística que, juntando a área intraportuária à zona exterior ao porto (explorada pela AICEP Global Parques), ultrapassa 200 hectares. Afinal, pode ser que a promessa de abrir a porta atlântica para a Europa se escreva também em mandarim.