Podem respirar, Portugal está no Europeu

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Esta será a quarta presença consecutiva da selecção portuguesa na fase final de um Europeu Nélson Garrido/PÚBLICO

O estádio estava petrificado. Os braços bem cruzados, os adeptos a fungar, a bater com os pés no chão. De frio, de nervos. O relógio congelado. Os finlandeses eram muitos, demasiados para ser verdade. Só mais cinco minutos! As substituições estavam esgotadas. E a Finlândia a cavalgar, a montar a sua arma, a mesma que há dias traiu o Azerbaijão. Já ninguém pensava noutra coisa. Os adeptos esqueceram o frio, a fome e até a cadeira. Levantaram-se e passaram cinco minutos a gritar - a berrar: "Portugal! Portugal!" Estamos no Inverno. Mas parecia o Verão de 2004.Foi no Estádio do Dragão que o Portugal de Scolari acordou para esse Euro. Foi no Estádio do Dragão que Portugal acordou para o próximo Euro também. Mil e duzentos e sessenta minutos depois, a selecção portuguesa mostrou ter coração e garra para avançar com confiança para a Áustria e a Suíça.
Não respire
Na selecção manda Luiz Felipe Scolari. Se ele diz que Pepe vai vestir a camisola de Portugal, o central do Real Madrid canta o hino, joga para o Mundial e despede-se do Estádio do Dragão - que já foi seu - atirando um beijo para as bancadas. Se ele diz que Fernando Meira vai ser promovido a trinco, o central do Estugarda impõe-se. Se ele diz que Simão Sabrosa é o sacrificado da noite, a selecção nacional ganha centímetros à Finlândia (exactamente 20 centímetros) e, no total, fica com uma média que não envergonha ninguém (1,82 contra 1,84). Se ele diz que Portugal vai apurar-se com 28 pontos, é porque sim - um erro admite-se a qualquer pessoa.
Não seria, como ainda ontem repetiu Gilberto Madaíl, "um grupo muito difícil". Mas Portugal facilitou. Passou por calafrios desnecessários. Guardou a festa para o fim.
Este é o resumo da fase de qualificação que durou mais de um ano. É também o resumo do jogo de ontem. Portugal demasiado calculista, demasiado preso às individualidades, sempre com o espectro do Campeonato Europeu de 1992, onde Portugal não esteve. Por outro lado, viu-se um Portugal quase sempre seguro do seu objectivo: o empate a todo custo, a vitória, se tiver que acontecer. Não aconteceu. Mas podia ter acontecido. O que não faltaram foi oportunidades. Aos 7", já Nuno Gomes tinha tido um centro à Bosingwa. Aos 19", já Quaresma e Pepe tinham recuperado uma jogada muitas vezes vista no Dragão. A bola entrou mesmo, mas Pepe fez falta sobre o guarda-redes (um lance idêntico ao que deu a vitória da Finlândia sobre o Azerbaijão). Aos 26" Quaresma desperdiçou um brinde. O povo, impaciente, conteve os assobios, substituindo-os por palmas. Se Scolari diz que os assobios são para o adversário, quem paga as favas são os finlandeses. Aos 40", três cabeças roçaram o centro de Miguel Veloso (Scolari disse que ele podia ser útil ali, a par de Maniche, e o sportinguista salvou um golo aos 38").
Apesar de tudo, apesar de a selecção estar a cumprir ordens superiores, Portugal regressou do intervalo mais atrevido. Ronaldo em cavalgadas de alta escola, vários colegas projectados sobre Jussi Jääskeläinen à procura da emenda vitoriosa, Maniche no sítio certo, mas com a força errada (63"), Quaresma com as trivelas calibradas. Ah! E Bosingwa.
Vêm aí os finlandeses. Calafrio número um, número dois, número três. Pepe pediu a ajuda do 12.º jogador. E ele apresentou-se ao serviço. Até que o árbitro apitou de vez. O jogo foi pobre, mas Portugal está no Europeu. Pode respirar.

Ficha de jogoPortugal

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Finlândia

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Jogo no Estádio do Dragão, no Porto
Assistência:

Cerca de 49 mil espectadores

Portugal

Ricardo, Bosingwa, Pepe, Bruno Alves, Caneira; Fernando Meira, Maniche (Raul Meireles, aos 73"), Miguel Veloso, Cristiano Ronaldo, Quaresma (Nani -, aos 85"), Nuno Gomes (Makukula, aos 77")

Finlândia

Jaaskelainen, Pasanen, Tihinen, Hyypia, Kallio, Heikkinen, Tainio (Yeremenko, aos 68"), Kolkka (Johansson, aos 75"), Sjolund, Litmanen (Vayrynen, aos 67"), Forssell.

Árbitro:

Lubos Michel, da Eslováquia.

Amarelos:

Slolund (39"), Hyypia (47"), Forssell (62"), Caneira (68"), Pesanen (88") e Makukula (90").

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