Dividido entre Lula e Bolsonaro e de regresso ao mapa da fome. Que Brasil vai a eleições?

A fome regressou ao país, há agora mais armas nas mãos de civis do que no arsenal da segurança pública e os recorrentes ataques à credibilidade do sistema eleitoral fazem crescer o receio de um desfecho violento. A um mês das eleições no Brasil, Andrés Malamud traça três possíveis cenários eleitorais e deixa um alerta: “Trump tentou impugnar o resultado, se a derrota for inevitável, Bolsonaro pode impugnar as eleições”.

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O ataque declarado à credibilidade do sistema eleitoral fez crescer o receio de um golpe no Brasil. “Até agora pensávamos que Bolsonaro faria a mesma coisa que Trump, impugnar o resultado. Agora, se a derrota é inevitável, vai impugnar as eleições”, defende Andrés Malamud, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL).

O país está dividido entre um ex-Presidente que não consegue escapar à herança danosa do PT e um Chefe de Estado que não esconde o saudosismo da ditadura militar.  “Nós vivemos um cenário de polarização. É impossível negar. O foco no Brasil é no líder, diferente do foco em Portugal, que é num partido. De facto, o nosso sistema favorece a personificação da campanha”, explica Ana Paula Costa, vice-presidente da Casa do Brasil de Lisboa. 

Para a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-NOVA), “há uma intenção de que as bases sociais sejam polarizadas para gerar este conflito”. E acredita ser “difícil encontrar moderação ou um meio termo entre discursos que não têm semelhanças”.

Bruno Bernardes não nega o cenário de divisão no país, mas defende que “é, também, artificial”. “O Brasil tem um sistema político eleitoral muito fragmentado. Nunca nenhum partido tem maioria na Câmara dos Deputados ou no Senado e, portanto, existe sempre uma necessidade de negociação”, adianta o investigador do Observatório Político. 

Sobre futuro do país após as eleições de 2 de Outubro, Andrés Malamud é peremptório: “o Brasil ‘amor e paz’ é muito difícil que volte. O que se pode fazer é tentar regular as condições nas quais se dará, a partir de agora, a competição e a confrontação política. Mas o demónio saiu da caixa e não vai voltar a entrar”.

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