Cinema
Foi a um comício de Trump e saiu de lá com um filme
“Quem são aquelas pessoas?”, perguntava Sean Dunne sempre que olhava para as reportagens sobre os comícios de Donald Trump que passavam a todas as horas nos canais de notícias. As câmaras estavam quase sempre viradas para o candidato republicano e Dunne não quis esperar mais para saber quem eram aqueles milhares de pessoas que enchiam os comícios do magnata norte-americano. Juntou-se à namorada, à produtora Cass Greener e a um grupo de amigos e partiram para um comício em Las Vegas, armados apenas com os seus smartphones, para registar tudo o que vissem. Mas também as respostas, muitas vezes bizarras, que com facilidade conseguiram arrancar aos apoiantes.
As seis horas que passaram no comício resultaram num documentário de 20 minutos chamado Trump Rally, o mais recente deste realizador nova-iorquino. Alguns amigos de Dunne não tiveram dúvidas em classificá-lo como “um filme de terror”, mas o realizador, habituado a debruçar-se sobre grupos, locais ou pessoas que aparentemente se movem à margem da sociedade, conseguiu encontrar pontos de contacto com a comunidade de apoiantes de Donald Trump.
Tal como o fez nos documentários Oxyana (premiado no Festival de Tribeca em 2013), onde mergulhou no quotidiano brutal da cidade de Oceana e da sua comunidade consumida pela adição quase generalizada em oxicodona (um fármaco analgésico), ou em American Juggalo, sobre o encontro anual dedicado aos fãs do grupo de hip-hop Insane Clown Posse, que carregam consigo o preconceito de uma reputação pouco recomendável. A destruição destas percepções generalizadas é mesmo um dos objectivos do trabalho de Sean Dunne. O ano passado estreou o filme Cam Girlz, sobre mulheres que ganham dinheiro a exibir-se à frente de uma webcam, mas o retrato não é comiserador: são mulheres conscientes e confiantes, tanto do seu corpo como das suas opções. “Para começar, o objectivo seria nem olhar para estas comunidades como as margens da sociedade”, defende Dunne. Foi esta filosofia de trabalho que transmitiu aos participantes do 180 Creative Camp durante a semana que passou em Abrantes a orientar workshops com jovens criativos nacionais e estrangeiros. E foi também em Abrantes que o PÚBLICO falou com o realizador.
O PÚBLICO esteve em Abrantes a convite do 180 Creative Camp.