Tudo de marca, amigo

Naquele restaurante a inocente pergunta portuguesa "o pudim é caseiro?" teria dado direito a um tiro entre os olhos.

Não posso dizer o nome do restaurante porque gostei dele e quero lá voltar. Bastará dizer que não era de cozinha portuguesa. Como gostámos muito dos petiscos e, sobretudo, dos molhos que os acompanhavam, perguntei se eram feitos por eles.

O empregado ficou ofendidíssimo e jurou que não, que tinham sido comprados num supermercado especial. Não percebi mas calei-me. Quando veio uma sobremesa deliciosa voltei a fazer a mesma pergunta e o homem explodiu.

Foi buscar os recibos do supermercado e indicou os artigos em causa. Escrevi os nomes das marcas e o empregado explicou que eram "as melhores".

Depois de uma longa conversa compreendi que era uma grande ofensa sugerir que o restaurante tentava confeccionar ali os pratos, para "serem mais baratos". Naquele restaurante a inocente pergunta portuguesa "o pudim é caseiro?" teria dado direito a um tiro entre os olhos.

Naquela microcultura o bom anfitrião gasta o dinheiro a comprar as comidas feitas por companhias especializadas e higiénicas que só se encontram em supermercados especiais, peritos em raridades.

Só um restaurante rasca tenta imitar essas glórias consagradas na miséria da sua própria cozinha. Imagine entrar numa farmácia portuguesa pedir um Kompensan e depois perguntar se tinham sido eles a fazer os comprimidos. A reacção seria a mesma.

A verdade é que jantámos bem e saimos de lá com uma longa lista de iguarias para comprar no tal supermercado. O que não foi nada mau.

 

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