Ameixoeira: tudo começou por dívidas num negócio de roupa

Há vários anos que duas famílias do bairro discutem por causa de um contentor com roupa que uma vendeu à outra. Desta vez, a desavença acabou em tiroteio.

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A PSP deteve seis pessoas e apreendeu várias armas no bairro Enric Vives-Rubio

O tiroteio desta terça-feira no bairro da Ameixoeira, em Lisboa, durante o qual ficaram feridos três agentes da PSP e duas mulheres civis, resultou de uma discussão fruto de uma desavença que dura há vários anos entre duas famílias de etnia cigana. Naquele dia, ainda à hora do almoço, elementos das duas partes desavindas — todos feirantes — sentaram-se e decidiram voltar a discutir uma dívida resultante de um negócio de venda de roupa. No centro da contenta está um contentor de roupa que uma família vendeu à outra, há vários anos, mas a dívida nunca terá sido saldada, explicaram fontes policiais ao PÚBLICO.

Os pedidos para que a PSP se dirija ao bairro, designadamente por causa daqueles duas famílias, são, por isso, frequentes. E, na maior parte das vezes, o motivo é o mesmo: confrontos violentos por causa do negócio da venda do contentor de roupa.

Na passada terça-feira, os elementos da família credora cansaram-se. Concluíram que as conversas, as ameaças e mesmo as agressões habituais não resultavam no objectivo pretendido: o pagamento da dívida. Fartos de esperar por melhor solução, e já após a uma nova discussão, foram buscar as caçadeiras que costumam guardar e dispararam. Pretenderiam apenas assustar, mas após o primeiro tiro a situação ficou fora de controlo.

Os três agentes da PSP que já estariam naquele bairro a realizar diligências relacionadas com processos relativos a outros suspeitos ouviram no rádio do carro a chamada de meios da polícia para o local. Estavam numa outra parte do bairro mas decidiram seguir para lá para avaliar a situação. Chegaram, saíram do carro e foram de imediato atingidos pelos chumbos de um disparo de caçadeira.

“Faziam parte da equipa que estava mais perto do local, tendo sido os primeiros a chegar ao bairro, deparando-se com a situação de confronto entre dois grupos com armas de fogo”, explicou o porta-voz da direcção nacional da PSP, Hugo Palma. Na terça-feira foi apreendida uma caçadeira, embora as autoridades não tenham informação de que esta arma tenha sido usada nos confrontos.

Os suspeitos saberiam que os três eram agentes da PSP, mas isso não os impediu de atingi-los. A tensão criada naquela zona do bairro era muita. A Polícia Judiciária está a investigar o caso, mas o PÚBLICO apurou que, face ao facto de existirem agentes da PSP baleados, esta polícia está muito atenta ao desenrolar deste caso. As autoridades temem que os dois suspeitos que fugiram do local já possam ter saído do país.

Armas e detenções

Na manhã desta sexta-feira, a PSP voltou ao bairro com uma operação que começou manhã cedo e terminou às 10h40 com a detenção de seis pessoas, 13 buscas e a apreensão de várias armas. Segundo Hugo Abreu, das relações públicas da PSP, na operação foram também apreendidas diversas munições e droga ainda não contabilizada.

“Na operação estiveram envolvidas diversas valências da PSP, como a unidade especial de polícia, equipas de intervenção rápida e investigação criminal e os recursos empenhados foram os adequados e proporcionais ao desenvolvimento da operação”, referiu. Hugo Abreu disse ainda que durante a operação não se registou qualquer tipo de incidente.

Um dos agentes feridos ainda permanece internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa: “Deverá, segundo informação médica, ter alta ainda hoje [ontem] ou durante o fim-de-semana”, referiu o mesmo responsável policial.

A Inspecção-Geral da Administração Interna anunciou na quinta-feira a abertura de um inquérito para apurar “todos os factos” relacionados com o tiroteio.

 

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