Reabilitar os insuficientes respiratórios crónicos é uma prioridade
A capacidade de resposta à Reabilitação Respiratória é, em Portugal, muito escassa e absolutamente insuficiente, respondendo às necessidades de apenas 1 a 2% dos doentes que dela beneficiariam.
As Doenças Respiratórias Crónicas, particularmente a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), a Asma, as Bronquiectasias e as Fibroses Pulmonares são causa frequente de incapacidade respiratória, com grave prejuízo da qualidade de vida dos doentes e sérias repercussões familiares. Estas doenças podem incapacitar o doente de realizar tarefas tão simples como o vestir ou realizar a higiene diária.
O impacto destas doenças não se restringe à esfera individual e familiar do doente, sendo alargado à sociedade. Verificamos que as doenças respiratórias estão na causa do afastamento das atividades laboral ou escolar de 11 mil pessoas diariamente. Por outro lado, os custos diretos com doenças respiratórias rondam anualmente os 600 milhões de euros. Sendo que, só a DPOC é responsável por 240 milhões.
Conscientes deste impacto e da existência de formas de minimizá-lo, várias sociedades científicas, associações profissionais e de doentes na área da saúde, juntaram-se numa só voz para alertar para a importância do alargamento do acesso destes doentes a um tipo de tratamento, a Reabilitação Respiratória.
E os benefícios são vários e estão cientificamente comprovados, desde melhorar a qualidade de vida dos insuficientes respiratórios crónicos, a diminuir o número de internamentos e influir positivamente na história natural destas doenças. Não nos podemos ainda esquecer de equacionar os gastos evitados pelo Estado com a redução das exacerbações das doenças e redução dos internamentos, que têm um custo médio de 1.982 euros.
Contudo, verificamos que a capacidade de resposta à Reabilitação Respiratória é, em Portugal, muito escassa e absolutamente insuficiente, respondendo às necessidades de apenas 1 a 2% dos doentes que dela beneficiariam, não obstante as vantagens que traria serem muito superiores aos custos que acarretaria.
Esta é uma situação que urge inverter, facto que levou a que as várias Sociedades Científicas, Associações Profissionais e Associações de Doentes, com o apoio da Direcção-Geral de Saúde, a celebrar um Dia dedicado ao tema da Reabilitação Respiratória.
Pretendemos sensibilizar a comunidade científica, sociedade civil, doentes respiratórios crónicos e poderes públicos para a importância da Reabilitação Respiratória e para a necessidade de rapidamente ser colmatada a carência extrema que existe nesta área entre nós.
No âmbito da criação do Dia da Reabilitação Respiratória é apresentado um documento conjunto das entidades com recomendações e prioridades para a área.
Neste documento defendemos que a criação de uma Rede de Reabilitação Respiratória, adaptada às necessidades do País, capaz de garantir a todos os portugueses o acesso a ela, em condições de universalidade e equidade, tem de ser considerada uma prioridade absoluta na resposta às Doenças Respiratórias Crónicas, por parte do Ministério da Saúde.
Devem existir programas de reabilitação respiratória devidamente estruturados em todos os Hospitais Públicos, Centrais e Distritais e, bem assim, noutros que tenham recursos técnicos adequados. Um Programa de Reabilitação Respiratória implica uma correta estruturação e uma intervenção multidisciplinar, envolvendo médicos e outros profissionais de saúde devidamente habilitados, como fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais.
Antevendo-se que, mesmo assim, a resposta seja insuficiente, numa lógica de Sistema Nacional de Saúde, será importante estender os Programas de Reabilitação Respiratória aos Cuidados de Saúde Primários (exemplo um programa em cada ACES) ou mesmo às Unidades de iniciativa privada, devidamente articuladas com o SNS e supletivas das suas eventuais carências.
Anualmente cerca de 2 milhões de portugueses lutam pela capacidade de respirar melhor, afetados por doenças respiratórias crónicas. Não podemos ficar indiferentes nem aos números, nem às melhorias que um acesso alargado à reabilitação respiratória implicaria para os doentes, familiares e sociedade.
Presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão