Muita solidariedade e uma “mão-cheia de nada” para os taxistas
Anunciados como os maiores protestos de sempre no sector, as marchas lentas desta sexta-feira de taxistas contra a Uber não surtiram o efeito desejado pelas associações. Houve menos carros que o esperado. E, até ver, a Uber vai continuar a operar como até aqui.
As associações de taxistas esperavam o maior protesto de sempre, mas a dimensão das três marchas lentas realizadas nesta sexta-feira em Lisboa, no Porto e em Faro ficou aquém das expectativas. E, como muitas vezes, nestas ocasiões há números muito diferentes na soma dos balanços realizados pela PSP e pelos organizadores: menos de dois mil táxis em todo o país na versão dos primeiros, mais de cinco mil viaturas na dos segundos.
A ordem de desmobilização foi dada perto da hora do jantar, com o presidente da Antral, Florêncio Almeida, a dizer-se medianamente satisfeito no final da reunião com o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes, que basicamente concretizou uma iniciativa anunciada há dias pelo ministro do Ambiente, Matos Fernandes: criar um grupo de trabalho para analisar os transportes urbanos e melhorar a mobilidade nas cidades.
Da reunião saíram datas — Junho para o início dos trabalhos e final de Julho para a apresentação de resultados preliminares — e uma nova reunião, agendada para o próximo dia 6, mas nada de substancialmente novo. As duas organizadoras dos protestos, a Antral e Federação Portuguesa do Táxi (FPT), preferiram destacar que “a Uber não vai fazer parte do grupo de trabalho”, uma hipótese que o Governo garante nunca ter estado em cima da mesa.
E, assim, os taxistas aceitaram voltar à mesa das negociações com o Governo depois de se terem recusado há cerca de mês e meio a discutir um pacote de 17 milhões de euros com incentivos financeiros para o sector, considerando que o Executivo estava a comprá-los para aceitarem a regulamentação da Uber, uma plataforma tecnológica que liga clientes a condutores de automóveis que transportam passageiros.
Na ordem dos resultados, Florêncio Almeida põe as promessas do grupo parlamentar do PS à frente das garantias do Governo. O dirigente realça que os deputados do PS assumiram o compromisso de ouvir todas as entidades que foram notificadas pelo tribunal para suspenderam a actividade da aplicação tecnológica da Uber e perceber por que é que a multinacional ainda consegue operar em Portugal.
No balanço do protesto, Carlos Ramos, presidente da FPT, preferiu destacar as garantias dadas pelo secretário de Estado, que prometeu que qualquer operadora que venha a ser aceite no transporte de passageiros vai ter que cumprir as mesmas exigências que os taxistas. E, com isto, quer-se dizer que vão ter que ter motoristas e viaturas certificados (o que exige a realização de exames médicos e de conhecimento), com contratos de trabalho e a descontar para a Segurança Social.
Durante o dia, os dirigentes da Antral e da FPT foram recebidos por três presidentes de câmaras — Lisboa, Porto e Faro —, pelos grupos parlamentares, pela chefe de gabinete do presidente da Assembleia da República, pelos presidente e vice-presidente da comissão de Economia e, por fim, pelo secretário de Estado Adjunto do Ambiente. Fizeram finca-pé na Assembleia da República e não arredavam pé enquanto não chegassem à fala com a tutela.
E os encontros no Parlamento não correram como esperado pelos representantes das duas associações. "Da minha parte, tenho que vos dizer que levo as minhas mãos vazias, zero, nada", disse Florêncio Almeida dirigindo-se aos taxistas. "Trouxemos uma mão cheia de nada", acrescentou Carlos Ramos.
Em Lisboa e no Porto, o trânsito ressentiu-se. Os carros que participaram na marcha lenta dos taxistas começaram a concentrar-se por volta das 8h, em Lisboa no Parque das Nações, e no Porto na rotunda do Castelo do Queijo, atravessando depois as cidades até à Assembleia da República e à Avenida dos Aliados. As palavras de ordem foram as mesmas. “Uber ilegal é crime nacional” foi a frase mais ouvida. Foi esta, aliás, a inscrição na faixa que colocaram frente à escadaria da Assembleia da República, vedada por grades e vigiada por agentes.
Em Lisboa, a PSP não avançou com dados concretos, mas ao fim do dia falava em "algumas centenas” de carros, que não chegavam “ao milhar". No Porto, o comissário que comandou o policiamento musculado do protesto contabilizava 400 táxis, enquanto em Faro se estimavam 120 viaturas a protestar. Números muito diferentes dos 3700 que Carlos Ramos contabilizava em Lisboa e dos 1200 no Porto. Em Faro, o dirigente admitia que o protesto ficara aquém das expectativas, que apontavam para 500 viaturas. “Estiveram pouco mais de 200 táxis”, contabilizava o presidente da FPT.
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