Ministro propõe "via verde" do Algarve para Lisboa para doentes em lista de espera

Adalberto Campos Fernandes diz que doentes em lista de espera "inapropriadas" podem ser tratados em Lisboa e que quer encontrar soluções até final de Maio para as dificuldades encontradas na região.

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O ministro da Saúde comprometeu-se esta sexta, em Faro, a acabar até 31 de Maio com as “dificuldades inaceitáveis” que a falta de médicos no Algarve tem provocado na região, assegurando a transferência para outras zonas do país dos doentes em lista de espera “inapropriadas”. Quem não conseguir ser tratado nos hospitais do Algarve, em tempo útil, passará assim a ter uma “via verde directa” para receber assistência em Lisboa e Vale do Tejo, garantiu Adalberto Campos Fernandes aos jornalistas no final da cerimónia de apresentação do Plano da Região de Saúde do Algarve e do novo Conselho de Administração do Centro Hospitalar da região. 

“Estamos a fazer tudo para reforçar localmente, mas o que não se resolveu em quatro anos não se vai resolver em quatro dias”, disse o ministro reconhecendo que, “infelizmente, o Algarve transformou-se numa história de insucesso”. Com a  aproximação do Verão, aumenta a pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS)   – faltam  recursos humanos a quase todos os níveis. O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS), Moura Reis apresentou o Plano Regional de Saúde de 2016, deixando a promessa da criação de vagas para 30 novos médicos. Porém, os concursos públicos, sistematicamente, ficam desertos.

Para minimizar os problemas da falta de clínicos, a ARS do Algarve conta com a boa vontade de médicos reformados que queiram retomar funções. Por outro lado, os jovens formados pela Universidade do Algarve e outras instituições, não encontram motivos de estimulo para se fixarem na região. O hospitais de Faro e Portimão vêem fugir os profissionais para o sector privado ou para os grandes centros. O diagnóstico está feito, mas o ministro não se conforma com terapia que tem sido aplicada. “Não creio que os problemas do SNS, no Algarve, sejam apenas a falta de recursos - há que clarificar o jogo da relação entre público e privado, e essa relação está longe de estar explicada”, avisou.

 No passado fim-de- semana, a administração do CHA sugeriu que fosse cancelada a realização de prova internacional de todo o terreno em bicicleta, em São Brás de Alportel, porque não havia condições no hospital para responder a um eventual acidente, na área da ortopedia. Nas outras especialidades, oftalmologia, anestesia ou cirurgia geral, com frequência, estão na mesma situação. O ministro reconheceu a existência dos problemas, mas deixou um apelo  à “tranquilidade” dos profissionais de saúde, pedindo-lhes para que seja dado algum tempo à nova equipa de da ARS para resolver os problemas.

Especificando que pretende encontrar soluções para os vários problemas detectados na região até final de Maio, Adalberto Campos Fernandes comprometeu-se: “Aquilo que não tiver feito é responsabilidade total do presidente da ARS e minha- cobrem, por favor, aquilo que é palavra dada, relativamente aquilo que é a responsabilidade politica do Governo”. 

Médicos pagos a 100 euros/hora

O presidente do CHA, Pedro Nunes, foi substituído por Joaquim Ramalho, antigo director do Departamento de Contratualização da ARS, levando na sua equipa Helena Baião, investigadora da Universidade do Algarve.  Ao fim de quatro anos à frente da saúde na região, o  ex-bastonário da Ordem dos Médicos abandona as funções em conflito com os autarcas do Partido Socialista. “ Falam da saúde, mas estão  apenas a olhar para a sua 'quinta',  afirmou, quando questionado pelo PUBLICO sobre as criticas da presidente da Câmara de Portimão, Isilda Gomes, PS, que pediu a sua demissão.

No que diz respeito às propostas que foram apresentadas para resolver os problemas do sector, observou: “a única solução é enviar os doentes para Lisboa, é que o temos vindo a fazer”. Porém, Pedro Nunes avisa que os problemas do Algarve não se resolvem com reforços de meios humanos apenas no Verão. “Não é contratando profissionais a ganhar a 100 euros/hora, com avião e hotel pagos, a trabalhar ao lado de  colegas que recebem 1500 euros/mês, que se ultrapassam os bloqueios ”.

Na primeira fila, a ouvir os discursos oficiais, encontrava-se o director do serviço de Ortopedia do Hospital de Santa Maria, Jacinto Monteiro. Se tivesse vestido a bata podia ter entrado de imediato em acção. Nas urgências do Hospital de Faro, onde se encontrava, um doente com fractura do colo do fémur aguardava ordem para ser transferido para Lisboa. No dia anterior andou num vai-vem de ambulância, entre os hospitais de Faro e Portimão, por não existir um ortopedista de serviço em ambas unidades de saúde.

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