Índice de bem-estar aumenta mas vulnerabilidade económica é maior do que há dez anos

Instituto Nacional de Estatística publica dados relativos a 2014. Educação, Ambiente e Participação Cívica e Governação são os domínios que mais contribuem para tendência global positiva, apesar da evolução desfavorável das condições materiais de vida.

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Nelson Garrido

Ao longo de uma década – de 2004 a 2014 – Portugal viveu um agravamento contínuo das "condições materiais de vida", uma das duas perspectivas analisadas para calcular o Índice de bem-estar. A outra, "qualidade de vida", teve uma evolução favorável, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) que esta sexta-feira divulga os dados relativos a 2014. 

Os dois indicadores “condições materiais” e “qualidade de vida” são calculados a partir de dez domínios que resultam de uma análise de indicadores tão diversos como remuneração e precariedade no trabalho, segurança e confiança nas instituições ou na polícia, sucesso ou insucesso escolar, taxa de doutoramentos e investigações académicas publicadas, percepção da qualidade dos serviços de saúde ou das relações familiares, taxa de criminalidade, homicídios ou violência doméstica, e muitos outros.  

Juntando uma e outra, a recuperação foi iniciada em 2013. Em 2014 o Índice de bem-estar atingiu 114,5, e os dados preliminares para 2015 apontam para um novo crescimento. As condições materiais subiram pela primeira vez em 2014, mas não o suficiente para compensarem as perdas dos últimos anos e recuperarem os valores pré-crise.

O optimismo relativo à inversão da tendência que se manteve negativa até 2013 é justificado pela “melhoria continuada na dimensão 'qualidade de vida' e pela melhoria recente [da dimensão] das 'condições materiais de vida'”, explica o INE. Entre 2004 e 2014 a taxa de variação média anual do Índice de bem-estar foi de 1,4%. Esta evolução ao longo da última década deve-se exclusivamente aos progressos verificados na perspetiva da 'qualidade de vida'.

Pelo contrário, o índice das "condições materiais de vida" baixou em 4% (menos 1% por ano), entre 2004 e 2008, seguindo-se uma quebra mais acentuada de 10,9 pontos percentuais no período entre 2008 e 2014 (menos 2% por ano). E dentro deste índice, as componentes analisadas do “trabalho e remuneração” e da “vulnerabilidade económica” são aquelas cuja evolução foi mais desfavorável, explica o INE.

Desemprego e endividamento

Ainda no quadro das "condições materiais de vida, a componente "vulnerabilidade económica" é uma dos que apresentam a evolução mais desfavorável ao longo do período em estudo. Uma evolução que reflecte a crescente fragilidade financeira das famílias, seja por não estarem incluídos no mercado de trabalho, por terem elevados níveis de endividamento ou pela maior dificuldade em pagar os compromissos assumidos com a habitação, expõe o INE.

Retrospectivamente, em praticamente todos os anos a partir de 2006, Portugal registou um agravamento do índice relativo à "vulnerabilidade económica", atingindo o valor mínimo em 2013 − 76,8 − e sendo o valor base de 100 relativo a 2004. O índice cresceu em 2014, e o INE prevê que esse crescimento prossiga em 2015, atingindo um valor de 81,6, quando em 2004 era de 100. Assim no período em análise, em comparação com o ano base, observou-se uma variação negativa de 18,4 pontos percentuais, sendo que o decréscimo do índice de vulnerabilidade não significa que a vulnerabilidade diminui mas que se agrava.

A análise dos dados conclui que o domínio "trabalho e remuneração" contribuiu de forma significativa para a descida do índice de "condições materiais de vida" com um decréscimo de 28,6 pontos percentuais entre 2004 e 2014. Embora o valor estimado para 2015 permita antever uma ligeira melhoria, ele estará 27 pontos percentuais abaixo do índice desta componente em 2004.

Assim, e olhando para o período em análise, o Índice de bem-estar em Portugal evoluiu positivamente entre 2004 e 2011, atingindo o valor de 109,2 em 2011. Em 2012 reduziu-se para 108,7, tendo recuperado no ano seguinte, atingindo 114,5 em 2014. A estimativa para 2015 é que aumente de novo para os 118,4. Para a tendência de crescimento, têm contribuído não apenas indicadores relativos à Educação e Ambiente, mas também relacionados com a Participação Cívica e Governação.

No Ambiente, por exemplo, verificam-se em maior número praias com bandeira azul ou pessoas que reportam problemas de poluição ou sujidade, embora também seja notório um mais fraco desempenho relativo a factores como o nível da qualidade da água, o índice de qualidade do ar ou a população servida por estações de tratamento de águas residuais quando comparados os quatro primeiros anos do período em análise (entre 2004 e 2008) com os seis anos seguintes (entre 2008 e 2014).

Crime baixou, violência aumentou

Na Educação, o indicador (que agrega, entre outros factores, níveis de aprendizagem ao longo da vida, de doutoramentos por mil habitantes, de publicações científicas publicadas) aumentou em mais de 80% nos dez anos, entre 2004 e 2014. E verificaram-se melhorias nos índices de participação em actividades públicas e grau de interesse pela política, porém contrabalançados por uma tendência negativa no índice de participação eleitoral e uma evolução positiva mas muito ligeira (em 0,7% por ano em média) nos níveis de confiança nas instituições e de percepção da qualidade dos serviços públicos.

A Segurança melhorou nos dez anos em análise embora com oscilações. Por exemplo, a confiança da população na polícia é maior em 2014 do que era em 2004 e a taxa de criminalidade diminuiu bem como a de homícidio. Por outro lado, agravou-se o universo de crianças e jovens vítimas de crimes e também, mas em menor grau, o número de mulheres vítimas de violência doméstica.

Notícia actualizada às 15h35, corrigindo no primeiro parágrafo "de 2004 a 2014" para "de 2004 a 2013"

 

 

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