Garrafas vai-e-vem
O mundo pode estar maluco mas ainda podemos decidir não enlouquecer com ele.
Para fugir de um aguaceiro entrámos num bar elegante dos anos 60 onde estava um casal bem vestido a beber whisky. Ela bebia com água do Luso e ele bebia com água do Castello. As garrafas eram bonitas: altas e finas, de bom vidro. Pareciam idênticas às dos anos 60.
Teriam os proprietários tido o cuidado extremo de reencher garrafas antigas, para manter o ambiente do bar?
Também há garrafas descartáveis de vidro – ditas de tara perdida – que são aquelas que compramos em toda a parte. São mais feias e frágeis.
Fui perguntar ao senhor. Não, disse-me com vaidade de benfeitor, aquelas garrafas são enchidas pelos produtores. Tal como nos anos 60 recolhem as grades de garrafas vazias e trocam-nas por grades com garrafas antigas que foram lavadas e reenchidas.
Quase todos os produtores – de cervejas, águas e refrigerantes – oferecem este valioso serviço. Ainda por cima as bebidas saem mais baratas através deste regime de reciclagem.
Saí de lá indignadíssimo. É que, até aqui, sempre que perguntava porque é que os bares e cafés serviam garrafas descartáveis mentiam-me, dizendo que os fabricantes agora só faziam aquelas. Uns tinham a lata de acrescentar que, para hotéis e restaurantes de luxo havia garrafas das antigas mas “a um preço incomportável”.
Vou passar a boicotar os estabelecimentos que se recusam a beneficiar do serviço de reenchimento, preferindo encher sacos de lixo de garrafas de vidro que só servem para uma vez.
O mundo pode estar maluco mas ainda podemos decidir não enlouquecer com ele.