Freud, mais uma vez
Estamos sempre a ser espantados por aquelas pessoas que nos espantaram pela primeira vez.
Uma das bençãos das grandes cabeças é, mesmo que tenhamos lido tudo o que escreveram, aparecerem instâncias inesperadas dessa grandeza.
São cabeças como Platão, Maimonides, Wittgenstein e Freud. Estava a ler, no Spectator desta semana, uma recensão escrita pelo melhor escritor e político do Partido Trabalhista (Alan Johnson) sobre o (provavelmente irresistível) livro de David Aaronovitch sobre os pais comunistas intitulado Party Animals: My Family and Other Communists.
A crítica pode ler-se online sem mais despesas. O que mais me impressionou foi ter citado o "narcisismo das pequenas diferenças" nas palavras de Freud.
Freud foi um daqueles génios que não teve tempo para escrever sobre tudo o que pensava - ou pensar sobre tudo o que escrevia. Estamos sempre a descobrir caminhos novos que ele sugeriu.
As pequenas diferenças - entre variedades religiosas ou pormenores decorativos - são, de facto, as distinções que ajudam a pessoa ou a facção A a diferenciar-se da pessoa ou da facção B por usarem duas rosas em vez de uma ou acreditar que estava a chover, em vez de estar sol, no dia em que o mundo foi criado.
Estamos sempre a ser espantados por aquelas pessoas que nos espantaram pela primeira vez. Claro que é incómodo separar as pessoas geniais (incontroláveis, com ideias imprevisíveis que tanto podem ser perigosas como estúpidas) das pessoas meramente inspiradas ou espertas.
Mas o esforço não vale a pena: já está escolhido por nós.