A geramizade
A geramizade é uma epifania solidária que leva, pelo menos, meio-século a reconhecer.
Desde que me tornei sexagenário comecei a reparar num consolador fenómeno: algumas pessoas que são mais ou menos da minha idade, começaram a cumprimentar-me e a mostrar-me solidariedade e até camaradagem, só porque nasceram, tal como eu, nos anos 50.
A geramizade é a cumplicidade de pertencermos à mesma geração. Em Portugal há uma geração de dez em dez anos. Os meus geramigos e as minhas geramigas incluem toda a gente que nasceu entre 1950 e 1959.
Dantes éramos inimigos ou inimigas, desconhecidas ou desconhecidos, indiferentes ou não. Mas agora somos todos e todas (os poucos e as poucas que somos) geramigos e geramigas.
Eu nasci em 1955, mesmo no meio da segunda melhor década desde sempre, excluíndo a presente que tem sido tão maravilhosamente boa e, ao contrário das anteriores e das posteriores, isenta de problemas de qualquer espécie.
Para quem não me esteja a tresler: estou a brincar. Cada geração resolve o mesmo número de problemas que a geração seguinte tem o prazer e a infelicidade de inaugurar.
No último TLS há uma tradução feliz escrita por Luke Parker de uma crónica maravilhosamente cega e optimista de Nabokov em 1926: "On Generalities". Lê-se grátis online, apesar de Murdoch ter razão: as pessoas que lêem devem pagar alguma coisa para ajudar as pessoas que escrevem a sobreviver.
A geramizade é uma epifania solidária que leva, pelo menos, meio-século a reconhecer. Geramigas e geramigos mais jovens: aproveitem e solidarizarem-se já!